Joana e João não estavam alcançando sucesso algum com suas brincadeiras de Primeiro de Abril. Não conseguiam enganar ninguém. Todos pareciam estar bem atentos quanto ao “Dia dos Bobos.”
– Talvez nos divertíssemos mais no 1º de março – resmungou João.
– Sim, ou em qualquer outro dia primeiro – concordou Joana.
Eles pedalavam, vagarosamente, para casa em seus triciclos. Não havia ninguém na rua com exceção de um senhor já idoso que morava na mesma quadra que eles. O pobre homem carregava uma pesada sacola de compras e, mesmo com a ajuda de sua bengala, não conseguia progredir na volta para casa.
O Sr. Oliveira colocou a sacola no chão ao lado das duas crianças e disse:
– Como está quente! Vou ter que voltar ao mercado, pois esqueci de comprar as cenouras que minha esposa pediu. Vocês poderiam cuidar um pouco das minhas compras? Eu volto logo…
Joana e João até poderiam ir ao mercado para o Sr. Oliveira, mas não tinham permissão de atravessar a avenida. Assim, Joana respondeu:
– Teremos o maior prazer de cuidar de sua sacola.
O velhinho desceu a rua batendo a bengala no chão a cada passo que dava.
– Agora, não podemos brincar nem passar trote em mais ninguém… – suspirou Joana.
– Já sei o que podemos fazer! – gritou João. – Podemos fazer uma brincadeira com o Sr. Oliveira. Vou buscar o carrinho de mão do papai e podemos levar embora a sacola com as compras.
Joana olhou surpresa para o irmão e disse que não deveriam fazer nada que prejudicasse
o velhinho.
Mas João não deu atenção à irmã: buscou o carrinho de mão e o encheu com as compras. Então, foi puxando enquanto Joana o seguia. Ao se aproximarem de uma casa branca, ela estranhou:
– Ué! Essa é a casa do Sr. Oliveira!
João tocou a campainha. Uma senhora de idade o atendeu. O menino explicou que o Sr. Oliveira tivera que voltar para buscar algo que esquecera e deixara a sacola ao cuidado deles.
– Muito obrigada – disse a mulher. – Fico feliz porque meu marido não precisou carregar isso até aqui, pois está muito pesada e o dia está bem quente.
As crianças saíram correndo antes que o Sr. Oliveira retornasse. Logo, ele apareceu e, olhando para as crianças sem as sacolas, não entendeu o que havia acontecido:
– Vocês prometeram que cuidariam das minhas compras. Onde estão elas? Vocês deixaram que alguém as roubasse?
– Sim! – disseram as crianças.
De início, o homem ficou muito aborrecido. Mas, então, ouviu quando os dois gritaram:
– Primeiro de Abril! Nós levamos sua sacola até sua casa!
Sorrindo aliviado, o Sr. Oliveira disse que aquela brincadeira de Primeiro de Abril fora a melhor que já lhe havia acontecido e foi embora.
Os dois irmãos também concordaram que essa tinha sido a melhor brincadeira que já haviam feito e combinaram que a fariam novamente no ano seguinte. Esse sim é um Primeiro de Abril digno de ser repetido!
– Vão ser as piores férias da minha vida! – gritou Marcos num canto da sala.
Melissa, do outro lado, chorava como se o mundo fosse acabar.
– Vocês não precisam fazer esse escândalo todo. O sítio do Tio Aldo é ótimo – disse a mãe, tentando acalmar os filhos.
Marcos e Melissa achavam o sítio do tio Aldo muito parado. Mas, como tinham que ir, resolveram levar o videogame e opções de vários jogos, o MP4 e o DVD para ligar à velha televisão do tio e assistir a muitos filmes. Também pediram ao pai o notebook com um aparelho de internet móvel, que permitiria a conexão com o mundo civilizado. Agora as férias seriam ótimas de verdade!
Depois de horas de viagem, viram a velha porteira perto de um grande pé de jaca e, atrás dele, o gordo tio Aldo tentando fazer graça.
– Surpresa! – disse o tio, saindo de trás da árvore. – Estas vão ser as melhores férias de vocês – disse empolgado.
– Ahan… com certeza! – Marcos falou baixinho
para Melissa, apontando para a mala cheia de
aparelhos eletrônicos.
Mal entraram na casa, as crianças foram tirando os equipamentos. Passaram a noite jogando videogame.
No dia seguinte, quando os pais levantaram para tomar café, Marcos e Melissa já estavam vendo filmes havia muito tempo. Depois que se cansaram, foram para a internet.
Tudo estava indo maravilhosamente bem, até que à tardinha caiu uma chuva forte. As crianças ficaram morrendo de medo por causa dos trovões. Depois de um tempo, um barulho enorme. Um raio caiu em algum lugar do sítio e a energia foi embora. O tio foi ver o que tinha acontecido. Ele explicou, mas os meninos não compreenderam. Só entenderam uma coisa: não haveria energia elétrica pelo resto das férias.
– Aaaaaaah – gritaram indignados. – Como assim? A gente vai ficar neste fim de mundo sem energia? – berraram. Eles não podiam acreditar.
Logo chegou a noite. O tio bateu na panela e chamou a família para o jantar. A cozinha estava toda decorada com velas e o tio Aldo, vestido de garçom. Foi o jantar mais engraçado que eles já tinham visto. Depois de comer, a família continuou em volta da mesa contando histórias engraçadas do passado. O tio era o mais palhaço. Começou a contar piadas e todos riram até a barriga ficar doendo. Depois, ficaram jogando dominó até tarde. Como aquilo foi bom!
No dia seguinte, o sol apareceu brilhante. O tio Aldo foi acordar os meninos para andar a cavalo. Que emoção! Parecia coisa de filme. De tarde, todos foram para a lagoa. Marcos ficou nos ombros do pai e Melissa nos ombros do tio. A mãe ficou na torcida.
O tio Aldo também deu um livro para cada um. No começo, eles não ficaram com muita vontade de ler, mas depois gostaram. Cada um leu dois livros durante as férias, sendo que o Marcos nunca tinha lido um livro até o fim em toda a vida.
O Marcos também começou a tocar violão nas férias. O tio Aldo tinha um violão antigo
pendurado na parede. Ensinou o sobrinho a tocar alguns acordes e, no fim das férias, o menino
já tirava um sonzinho.
A única coisa ruim das férias foi a despedida. Por incrível que pareça, ninguém queria ir embora, mesmo sem energia elétrica no sítio.
Na hora do abraço final, o tio deu um livro de histórias para cada um. As crianças vibraram. Depois, para surpresa de todos, deu o velho violão para Marcos. Agradecido, ele tocou “Parabéns pra você” com uma letra que inventou na hora:
Nestas férias fiquei
Até sem energia.
Aprendi que sem ela
Curto bem minha vida.
Texto: Daniel Lüdtke
Minha mãe me deu uma grande maçã vermelha. Gosto de maçãs e queria mais.
– Não, uma é suficiente – disse mamãe.
Mas ela saiu da cozinha. Peguei outra maçã e comi. Fiquei com dor de estômago. Como eu gostaria de ter comido apenas o suficiente…
Minha mãe me deixou brincar com bolhas de sabão ontem à tarde. Eu queria mais.
– Não, isso é suficiente – disse mamãe.
Mas ela se distraiu fazendo o jantar e eu fiz mais bolhas. Uma das bolhas estourou perto dos meus olhos, do meu nariz e da minha boca.
Agora, quando mamãe diz “isso é suficiente”, basta para mim!
Category: Letras, Para Pensar
O dia estava nublado. Josias e Marcos, dois irmãos, foram com a mãe até o mercado municipal onde todos os dias se realizava uma feira livre. Ali, ela os deixaria e seguiria para o trabalho. Eles teriam que retornar sozinhos para casa. Foram pela rua João Cabral e depois alcançaram a avenida Maranhão, por onde seguiram até o mercado velho, como ficava a conhecida feira. A avenida Maranhão margeia o rio Parnaíba, que divide o Piauí do Maranhão; é o segundo maior rio do nordeste brasileiro. Há uma ponte metálica ligando a cidade de Teresina à cidade de Timon, por onde antigamente passava o trem.
Quando passaram pela ponte, os meninos olharam a margem do rio e viram uma areia bonita e fina. Pensaram e combinaram que voltariam pela beira do rio, que era o caminho mais perto para casa. A mãe, ouvindo a conversa, já foi logo interferindo e desautorizando os meninos a voltarem pela beira do rio. O motivo era óbvio. Havia chovido muito e o rio tinha transbordado. Agora, um pouco mais seco, formara uma camada fina de areia na margem; mas só por cima. Embaixo, era pura lama.
Os meninos tinham ganhado um par de tênis. Eram azuis, lindos! Inclusive estavam estreando naquele dia.
Mas, ao retornarem das compras e voltarem para casa, seguiram o plano combinado, desobedecendo às ordens da mãe. Foram pela beira do rio. No início, encontraram algumas pedras. Tudo bem! Mas não demorou muito e as coisas começaram a ficar difícies. A lama era terrível! E os dois foram atolando até a canela. Não demorou, atolaram até o joelho. As compras que estavam na cesta caíram na lama. Numa pisada, Josias perdeu um dos pés dos tênis e começou a chorar e a se desesperar. Marcos estava consciente de sua responsabilidade, já que era o mais velho. Tratou logo de procurar o tênis do irmão nos buracos das pisada. Felizmente, ele o encontrou!
Não conseguiram andar muito e foram avistados por um rapaz que estava acima deles, numa barreira. O rapaz perguntou o que eles faziam ali, naquela situação; e os ajudou a subir e a sair daquela angústia e pesadelo.
Assim, foram para casa, mas sabendo que certamente a mãe descobriria a proeza e o castigo viria. Eles até que tentaram limpar os tênis novos, lavaram e esfregaram muito, com sabão e escova; mas, mesmo assim, eles ficaram encardidos do barro vermelho da beira do rio. Lavaram as verduras e tudo mais, mas os vestígios ficaram e não foi difícil a mãe perceber que eles tinham desobedecido à sua ordem e voltado para casa pela beira do rio. Os dois ficaram de castigo, sem sair para brincar com os amigos por um bom tempo. E a lição ficou: a desobediência não leva a lugar algum, faz o desobediente atolar na lama cada vez mais. Isso sem contar a perda moral e a material. No caso do Josias e do Marcos, os lindos tênis que eles tinham ganhado de presente, novinhos, há pouco tempo!
Texto: Camilo Martins
Ele não estava muito animado com o início das aulas