Lembra da primeira vez que você viajou de avião? – o pai perguntou enquanto guardava as malas no carro.
É claro que Léo se lembrava. Na época, ele tinha cinco anos e estava ansioso para abrir a janela e tocar nas nuvens. Como você pode imaginar, ele ficou bem decepcionado quando descobriu que era impossível fazer isso.
– Eu achava que as nuvens eram de espuma – contou.
Agora o garoto já sabia que as janelas precisam estar bem fechadas e que as nuvens parecem apenas uma fumaça quando o avião passa por elas.
No caminho até o aeroporto, Léo viu uma nuvem bem escura. “Parece que vai chover”, pensou enquanto fechava a janela.
– Trouxe o guarda-chuva? – perguntou o pai quando as primeiras gotas de chuva começaram a pingar no vidro do carro.
– Esqueci – respondeu a mãe desapontada.
– Oba! Banho de chuva! – Léo comemorou.
– Nada disso, mocinho – a mãe logo pôs fim à brincadeira. – Você quer entrar no avião todo molhado?
Pensando bem, ela tinha razão. O banho de chuva teria que ficar pra outro dia. Ao entrar no estacionamento do aeroporto, Léo avistou um funcionário com um guarda-chuva enorme, ajudando uma senhora a descer do carro.
“Nada de banho de chuva”, pensou mais uma vez.
Depois de tirarem as malas do carro, foram para a fila da companhia aérea. Alguns minutos depois, tudo pronto! Malas despachadas. Check-in feito. Agora era só esperar a hora do embarque. Enquanto olhava pelas janelas, Léo viu que a chuva estava mais forte. Quando se sentaram em frente ao portão de embarque, a mãe apontou para o painel de voos.
– Nosso voo vai atrasar…
– Por quê? – Léo perguntou desanimado.
– Deve ser por causa da chuva. É difícil decolar desse jeito – explicou o pai.
O garoto cruzou os braços e escorregou o corpo pela poltrona. Agora ia precisar de paciência pra esperar a chuva diminuir. O pai estava certo, o atraso era por causa da chuva. Foi o que a funcionária avisou pelo sistema de som.
Depois de quase uma hora de espera, que para o Léo pareceu um dia inteiro, a funcionária anunciou.
– Atenção senhores passageiros do voo 1737. Embarque autorizado no portão 6.
Léo pulou da cadeira e colocou a mochila nas costas:
– É o nosso, pai! Vamos!
Finalmente eles podiam entrar no avião.
Pela janela, Léo via que a chuva não tinha parado, mas o vento estava mais fraco e não atrapalhava a visão. Quando o avião decolou, o garoto conseguiu ver a pista toda molhada lá embaixo.
Ele nunca tinha viajado de avião na chuva. Era muito diferente. Léo olhava pela janela. A chuva parecia mais forte. Logo ouviu o aviso:
– Senhores passageiros, estamos passando por uma área de instabilidade. Por favor, mantenham-se sentados com os cintos de segurança afivelados.
– Instabilidade? O que está acontecendo, pai? – perguntou assustado.
– Nós vamos passar por dentro da nuvem de chuva, filho.
“O quêêê?” Foi o que o Léo pensou. “Dentro da nuvem de chuva?” Foi tudo muito rápido, ele só teve tempo de pensar. Antes que conseguisse perguntar para o pai o que isso significava, ouviu um barulho mais forte na janela. Tudo ficou escuro, e ele podia sentir as gotas de água bem mais fortes do que antes. Era isso mesmo: estavam dentro da nuvem de chuva.
O avião continuou subindo por alguns segundos (o Léo achou que fossem minutos, mas depois o pai contou que tudo foi bem rápido). De repente, o céu ficou azul. Instantaneamente a chuva parou, o barulho passou, e tudo o que se via pela janela era um lindo céu azul. Olhando para baixo, Léo conseguia ver a nuvem de chuva, cinza, mas ela havia ficado para trás, quer dizer, para baixo.
– Viu isso, Léo? Agora estamos acima da nuvem de chuva. Lá embaixo ainda está chovendo, mas por aqui já está tudo azul.
Léo ainda nem conseguia dizer o que tinha visto. Foi mesmo incrível passar por dentro de uma nuvem de chuva. Ele nunca havia imaginado que isso seria possível. Ainda estava olhando pela janela quando a mãe tocou em seu braço:
– É por isso que eu sempre digo que depois da tempestade há um céu azul, filho.
Léo se lembrou das muitas vezes em que a mãe disse isso quando ele estava triste ou chateado com alguma coisa. Se algo ruim acontecia, ela sempre o fazia pensar que logo aquilo iria passar e tudo ficaria bem.
– É verdade, mãe. E hoje eu vi direitinho como é que isso acontece.
Texto: Anne