Ela mora num bairro tranquilo de uma pequena cidade. A casa é amarelinha, parecendo uma gema de ovo. Em um dos lados da casa, há uma pequena varanda onde fica uma gostosa cadeira de balanço. Ali, a vovó fica bastante tempo lendo e observando as pessoas que passam. No quintal, tem limoeiro, abacateiro, jabuticabeira, goiabeira e uma grande mangueira com um balanço de madeira. Na frente da casa, ela plantou um lindo canteiro com rosas, margaridas, cravos,
onze-horas, petúnias e inúmeras outras flores.
Quando chegam as férias escolares, vovó Marina recebe a visita de suas filhas, netos e netas. Uma das netas sempre espera ansiosamente pela chegada dessa época do ano, a Ana Caroline.
Aninha, como todos a chamam, tem sete anos e meio, é morena e seus cabelos são longos e cacheados. Ela gosta de ir à casa da vovó e seu local predileto é o canteiro com flores.
Ao longo de várias férias, Aninha foi aprendendo o nome de cada florzinha e como cuidar delas. Tinha a que precisava de mais sol ou de mais água, aquela que era mais delicada e necessitava de mais cuidados, e as que precisavam de pequenos cortes (podas) para que ficassem mais bonitas. Os majestosos lírios, colocados em vasos na varanda, eram os preferidos da Vovó Marina. Por isso, Aninha dava mais atenção a eles e chegava até a perguntar se estavam bem quando os regava. Para ela, isso era um passatempo fascinante!
Um dia, a vovó ficou doente e a mãe de Aninha precisou ficar com ela por algumas semanas, já que o vovô estava viajando.
Aninha ficou feliz por passar algum tempo com a vovó. Quando chegou, foi como um raio de luz iluminando aquela casa:
– Olá, vovó! Olá, plantinhas! Olá, casinha amarelinha!
A alegria da menina ajudava a vovó a ficar feliz e, assim, ela se sentia melhor.
– Vovó, enquanto você estiver doente, vou molhar todas as plantinhas! – prometeu Aninha.
A Vovó Marina sorriu e agradeceu. Da janela do quarto, ela podia ver e ouvir a netinha conversando com as flores e contando que a vovó logo sararia. Numa certa manhã, Aninha estava empolgada com um ninho de bem-te-vi que tinha descoberto no limoeiro. A menina acabou ficando distraída e se esqueceu do jardim. À tarde, um amigo da casa ao lado foi visitá-la e eles se envolveram completamente em muitas brincadeiras no quintal. No fim da tarde, cansada, Aninha tomou banho, comeu rapidamente e dormiu cedo.
A vovó ficou preocupada com as flores, mas ainda não podia se levantar. Olhou para a poltrona ao lado e notou que a filha dormia, vencida pelo cansaço do dia.
Enquanto isso, Aninha sonhava com passarinhos, cachorrinhos e flores… De repente, ela notou em seu sonho, que as flores estavam morrendo e pareciam perguntar para ela por que não tinham sido visitadas:
– Estamos com muita sede! Você vai nos deixar assim?
– Não! – gritou Aninha, ao mesmo tempo em que acordou assustada.
Lembrando-se de que não tinha feito sua tarefa diária, calçou os tênis, pegou a lanterna e saiu correndo para o canteiro. Então, molhou todas as flores, pedindo desculpas a cada uma.
A vovó, que estava começando a cochilar, acordou com o barulho da água e ouviu Aninha contando o sonho para as flores. Ela prometeu nunca mais esquecê-las. Logo depois, percebeu que ela voltou para a cama. Aninha dormiu feliz e sem pesadelos o restante da noite.
Na manhã seguinte, ela acordou mais tarde e encontrou ao lado da cama um vasinho com um pequeno lírio. Junto dele, estava um bilhetinho que dizia: “Para Aninha, a flor da vovó! Desejo que suas promessas sejam sempre sinceras e que sua alegria possa continuar embelezando a vida, como se fosse uma flor.”
Aninha sorriu e saiu correndo para abraçar a vovó, que já estava em pé no quarto. O gesto da netinha lhe fizera tão bem que ela já conseguia se levantar.
Depois de alguns dias, as duas voltaram a cuidar juntas do canteiro de flores. E o presente que Aninha havia ganhado da vovó se tornou a primeira das flores do jardim que Aninha resolveu formar em casa. Olhando para aquele lírio, ela descobriu algo muito legal: quando o amor é demonstrado, mesmo em pequenos gestos, alegra tanto as pessoas, que pode até curar!
Lília Goulart