O feriado estava chegando. Alice não via a hora de ir para a fazenda dos avós. Ela e os primos sempre se divertiam lá. A vovó fazia comidas gostosas, e o vovô contava histórias. Era pura diversão!
Quando Alice e os primos chegaram à fazenda, já fizeram planos para as brincadeiras:
– Quero subir na casinha da árvore! – disse Davi animado.
– Eu trouxe uma lente de aumento para procurar insetos. Querem ver?
Antes que Felipe mostrasse a lente, a vovó chamou:
– Crianças, venham comer! Preparei um lanchinho pra vocês!
A mesa estava cheia: bolo de fubá, pão de queijo, suco de laranja… Humm! Que cheirinho bom!
Depois do lanche, saíram para passear. Enquanto caminhavam, um animal passou bem rápido na frente deles e entrou na mata fechada. Alice ficou curiosa e quis procurar o bichinho:
– Vamos lá, gente. Ele não pode ter ido tão longe – disse, tentando alcançá-lo.
– Não, Alice! É perigoso entrar aí – falou Felipe.
Alice desistiu da ideia, e os primos ficaram a tarde toda brincando; nem viram o tempo passar. Quando perceberam, já era hora de voltar para casa. De longe, viram os adultos conversando na varanda. Tio Carlos estava deitado na rede, distraído. Davi teve uma ideia:
– Vamos entrar bem devagar e dar um susto no tio Carlos?
Todos riram ao imaginar o susto que ele levaria. Foram bem devagar, abaixados, para que ninguém os visse. Ficaram deitados na escada que separava o quintal da varanda. Em silêncio, podiam ouvir o que os adultos conversavam.
– Eu tinha muito medo do curupira. Imagine, um anão de cabelos compridos e pés virados para trás. Quem não teria medo? – dizia tia Sara.
– É verdade, você nunca queria brincar perto da mata. Ainda mais porque diziam que ele era o protetor da floresta e perseguia quem desrespeitava a natureza – completou o vovô.
– Você não podia ouvir um assovio que já achava que era ele – disse a vovó.
As crianças ficaram paradas na escada por um tempo. Nem se lembravam mais do plano de assustar o tio. Agora, elas estavam assustadas com essa história de curupira. Durante o jantar, ficaram caladas e quase não comeram a sopa que a vovó havia preparado. Não paravam de pensar no que tinham ouvido. Quando estavam sozinhas na sala, conversaram baixinho:
– Vocês ouviram o que a tia Sara disse? Ela tem medo do curupira! – disse Felipe amedrontado.
– Parece mesmo assustador. Já pensou se tivéssemos encontrado esse tal de curupira hoje na mata? Eu não quero mais voltar lá – disse Alice com os olhos arregalados.
– Muito menos eu – concordou Carol.
Na hora de dormir, as crianças viravam de um lado para o outro na cama, mas não conseguiam pegar no sono. Quando estavam quase dormindo, se lembravam do curupira e não conseguiam mais fechar os olhos.
Algum tempo depois, só Alice continuava acordada. Ela ouviu um assovio vindo da cozinha e se lembrou do que a vovó havia dito sobre o curupira. Um assovio? Seria ele?
Assustada, pulou para a cama da mãe, pedindo:
– Posso deitar aqui com você e o papai? – disse, abraçando a mãe com força.
– O que foi? O que aconteceu? – falou a mãe acendendo a luz.
– Eu ouvi um assovio! É ele! – disse ela escondendo o rosto com as mãos.
– Do que você está falando, filha? Ele quem? – perguntou o pai, tentando entender.
Todos acordaram com as conversas e foram ver o que estava acontecendo. Alice estava sentada na cama e as outras crianças começaram a falar todas ao mesmo tempo:
– Nós ouvimos vocês falando sobre o curupira e estamos com medo – explicou Felipe.
– É isso mesmo. Estamos assustados! – completou Davi rapidamente.
– Mas o que vocês ouviram exatamente? – perguntou a vovó.
– Estávamos na escada e ouvimos a tia Sara falando do curupira, que era um anão com os pés virados para trás – explicou Alice.
– E o vovô disse que ele perseguia quem não cuidava da natureza – concluiu Carol.
– Fiquem calmos. Vocês entenderam tudo errado. Estávamos falando sobre as lendas que nos assustavam quando crianças. Se tivessem ouvido toda a conversa, entenderiam que estávamos apenas nos lembrando disso – contou tio Carlos.
– Essas histórias não são verdadeiras. Não precisam ter medo – falou a vovó abraçando Felipe.
– Então o curupira não existe? – perguntou Carol.
– Não. Curupira, saci-pererê, lobisomem e tantos outros personagens são apenas histórias inventadas para assustar as pessoas – disse o vovô.
– Mas e o assovio que vinha da cozinha? Eu ouvi – quis saber Alice.
– Ah! Eu que estava lá preparando um chá. Tenho essa mania – disse tio Carlos sorrindo.
Todos riram nessa hora, e as crianças finalmente se acalmaram. Ficaram ainda alguns minutos conversando sobre as lendas, mas agora não tinham mais medo. Entenderam que essas histórias não eram reais. Os dias seguintes foram cheios de brincadeiras e aventuras. Todos se divertiram muito e voltaram para casa cheios de histórias pra contar.
Texto: Anne Lizie Hirle
Ilustração: Ilustra Cartoon