Na chácara, tinha de tudo: balanço, gangorra, escorregador, caixa de areia e até piscina! O que estava programado para acontecer era fantástico! Além de salgadinhos e docinhos, haveria uma brincadeira com bexigas e água! Dava para imaginar a bagunça que a criançada iria fazer.
Beatriz, a mais agitada da turma, com seus orgulhosos oito anos, tinha anunciado que levaria vários brinquedos de piscina e alguns bichinhos para brincar na areia. As amigas pediam:
– A gente pode brincar também, Bia?
– Claro!
Ela dizia isso, mas não deixava. Bastava alguém pedir algo e ela respondia:
– Agora não… Daqui a pouco.
Na verdade, ela gostava de se ocupar com os brinquedos de todos e, quando chegava a sua vez, ficava preocupada com a possibilidade de alguém quebrar algo que fosse dela.
– Era melhor você não ter trazido nada! — disse Ritinha, sua melhor amiga.
A amiga percebia a preocupação que Beatriz tinha ao esconder as coisas para que ninguém pegasse. Muitas vezes, ela perdia parte da festa para guardar melhor o que havia trazido quando alguém descobria onde estava e lhe pedia emprestado.
Foi nessa hora que Ritinha teve uma ideia. Correu até onde a professora estava e cochichou algo no ouvido dela. A professora sorriu, balançou a cabeça e entrou em casa.
Entre uma brincadeira e outra, Beatriz percebeu a professora trazendo vários jogos e brinquedos. A professora chamou a turma e falou algo inesperado:
– Estes brinquedos eram meus, de quando eu era criança. Quero que vocês todos brinquem com eles. Não tive irmãos e costumava guardar tudo para que ninguém estragasse, mesmo quando alguma amiguinha vinha em casa. Quando cresci, percebi que quase tudo tinha ficado novinho e que se eu tivesse repartido com meus amigos, teria lembranças dos dias felizes e talvez mais amigos. Agora, sempre trago meus alunos em casa para brincar. Quando vejo crianças brincando na rua, as convido para entrar e brincar um pouco também.
Nessa hora, Bia levantou a mão e disse:
– Mas você não fica com medo que estraguem tudo?
Todos olharam para ela e depois para a professora, pois conheciam bem a coleguinha que escondia tudo para ninguém pegar.
A professora respondeu:
– Bia, de que adianta ter tantas coisas sem ninguém para usá-las? É como se você estivesse numa loja de doces, olhasse tudo e a dona não deixasse você comprar nada. Para que ela faria se não pudesse vender? Além do mais, pessoas são mais importantes do que coisas, porque existem várias coisas iguais, mas as pessoas são todas diferentes e especiais.
Depois, todos voltaram a brincar e se empolgaram com os jogos, menos a Beatriz. Ela ficou quietinha num canto pensando no que a professora tinha dito. Em seguida, correu até uma moita, pegou sua sacolinha com os brinquedos e se misturou aos amigos, deixando todos brincarem.
Foi o melhor dia do ano! Todos ficaram felizes e aproveitaram a festa. Cada vez que pensava em não repartir algo, Bia repetia para si mesma o que a professora havia falado: “Pessoas são mais importantes que coisas.” E assim ela conseguia compartilhar o que tinha.
Lília Goulart