Dona Zezé andava triste, de olhar opaco e perdido, com as rugas cada vez mais profundas. Apesar do carinho dos filhos e dos netos, parecia que o brilho havia desaparecido de seus olhos. O que poderia fazer a diferença?
Graziela, a neta, estava preocupada. Às vezes, pedia para dormir na casa da avó, outras vezes, para almoçar na semana com ela; tudo isso para lhe fazer companhia. E os momentos em que passavam juntas pareciam reanimar Dona Zezé, pois Graziela gostava de ouvir as histórias que vovó contava.
Certa vez, Graziela chegou contente. Por causa do Dia dos Avós, que seria nas férias, a escola faria uma pequena festa para alunos e seus avós, poucos dias antes de as aulas do primeiro semestre terminarem. Dona Zezé poderia acompanhar a neta.
Na data combinada, Dona Zezé estava lá. A escola apresentou um bonito programa, as crianças cantaram e todos comeram os quitutes preparados especialmente para a ocasião. Mais tarde, quando os amigos se aproximaram de Graziela e a convidaram para brincar, ela não quis deixar a avó sozinha. Então teve uma ideia:
– Vovó, conte pra nós aquela história de quando a senhora ouviu um barulho estranho na floresta.
E a avó contou como havia ficado assustada com um barulho e imaginado mil coisas diferentes, até descobrir que era apenas… o piado de um pássaro selvagem.
A criançada, interessada, rodeava Dona Zezé. E até alguns professores se ajeitavam ali por perto.
– E aquela história de quando a senhora deixou cair a aliança na massa de pão?
E Dona Zezé contou mais uma história, e mais uma e mais uma, até a hora de ir embora. As histórias fizeram sucesso!
Foi um dia maravilhoso! Quando ela chegou em casa, com a netinha, parecia ter rejuvenescido 10 anos, no mínimo.
Naquela mesma semana, Dona Zezé recebeu um convite especial: fazer a “Hora do Conto” na biblioteca da escola – missão que ela topou na hora!
Agora, toda sexta-feira, Dona Zezé tem um compromisso especial. É o Dia dos Contos da Vovó. Ela põe uma bonita roupa, arruma o cabelo, passa um bom perfume e vai à escola falar do seu tempo de menina, dos “causos” de outras épocas, das coisas que ouvia o povo contar. E as rugas parecem diminuir, a tristeza deu lugar à alegria de viver e até aquele olhar voltou a brilhar radiante. Que bom! Mas o que terá feito a diferença?
Sueli Ferreira de Oliveira