Saúde, Taís!

Os pais de Taís estavam trabalhando bastante. Eles haviam se mudado para aquela casa recentemente e estavam em uma rotina diferente.

Antes, eles brincavam, contavam histórias e até cantavam sempre que os pais chegavam do trabalho. Mas, agora, era só abrir caixas, colocar coisas no lugar e ver um pouco de TV antes de dormir.

Taís estava com saudade de todas as coisas legais que fazia com seus pais antes da mudança.

– Mãe, me conta uma história bem legal antes de dormir?

– Claro, querida. Assim que terminar o jornal.

Algum tempo se passou.

– Já acabou o jornal, pai?

O pai de Taís sorriu.

– Ainda não, princesa.

Taís estava com sono.

– Mãe… E a minha história?

– Calma, filha… Já vai. Disse com a cabeça dentro de uma caixa grande.

Taís se cansou e foi dormir.

No dia seguinte, a mãe da menina foi acordá-la com um beijo e…

– Opa! Você está muito quente.

 O rostinho redondo de Taís estava vermelho e ela se sentia muito sonolenta. Tinha febre.

– Acho que não vou poder trabalhar hoje. Vou ficar aqui pra cuidar de você e esperar a febre baixar. Disse a mãe com o rosto sério.

O dia foi incrível! A mãe de Taís cantou pra ela, fez biscoitos, mingau… O pai chegou cedo do trabalho. E os três ficaram juntinhos. Quanto carinho! Na hora de dormir, teve história, beijos e gargalhadas.

Taís pensou, pensou e chegou a uma conclusão: “Não quero melhorar. Vou ficar doente pra sempre.”

E começou a inventar dores por todo corpo. Passava batom nas bochechas. Fingia que estava com dor de barriga e ficava horas no banheiro lendo gibis. Tossia de mentirinha, espirrava e achava graça de ouvir: “Saúde, Taís!” E cada dia era uma história diferente.

Taís começou a perder aula e seus pais ficaram preocupados. Mas os pais são bem espertos e não se consegue enganá-los por muito tempo.

Numa manhã chuvosa, Taís acordou já sem criatividade para inventar uma nova doença. Estava chovendo. Seria ideal passar o dia inteirinho com o papai e com a mamãe. Ela ficou muito tempo deitada pensando no que faria e qual dor inventaria para aquele dia…

Quando resolveu se levantar, já havia se passado muito tempo e possivelmente estavam todos atrasados. A menina pensou: “Ótimo! Todo mundo perdeu a hora. Vamos passar o dia comendo pipoca e brincando.”

Ela desceu as escadas correndo e encontrou o pai de pijama na sala.

– Bom dia, filha. Estava mesmo esperando por você. Hoje, vou levá-la ao hospital. Você anda muito doente. Temos que investigar.

Taís ficou pálida. Afinal de contas, ela nunca esteve tão saudável.

– E vai ter injeção, pai?

Sem tirar os olhos do jornal, o pai respondeu:

– Claro! Uma para cada dor. Uma para a dor de barriga de anteontem, uma para a dor de cabeça de ontem, para a tosse e os espirros, uma também para aquela dor de cotovelo de outro dia, lembra? E uma para a febre no início da semana.

– Mas, pai… – Taís não sabia o que dizer. Só sabia que não queria tomar tanta injeção à toa.

– Vamos, filha. Arrume-se depressa. Eu me visto em cinco minutos.

Taís, que estava na metade da escada, desceu os degraus que restavam bem lentamente. Ela queria contar a verdade, mas não sabia como.

O pai sentou-se no sofá com o jornal na mão e olhou firmemente para Taís:

– O que foi, filha?

A menina envergonhada falou depressa:

– Só preciso de uma injeção. Só fiquei doente uma vez. Mas, como vocês deixaram o trabalho e as caixas da mudança para cuidar de mim, resolvi ficar doente sempre. Foi isso.

O pai, que já sabia de tudo, continuou sério:

– Eu já imaginava. Precisamos conversar tudo outra vez sobre mentiras? Preciso dizer novamente que se você mente repetidas vezes as pessoas perdem a confiança em você?

Taís queria chorar, mas ficou firme. O pai continuou:

– Filha, estou feliz em saber que você está saudável. A saúde é muito importante. Por isso, praticamos esportes, comemos alimentos naturais, bebemos muita água. Saúde não tem preço.

A menina rompeu o silêncio:

– Desculpe por mentir, papai.

 Ele enxugou uma lágrima teimosa do rostinho redondo da menina.

– Tudo bem, princesa. Desculpe-me por não ter dado atenção a você nos últimos dias. Temos muitas coisas para fazer, mas devagar vamos voltar à rotina divertida. As caixas vão esperar um pouquinho. E a televisão vai ficar desligada à noite, combinado?

Taís sorriu.

– Ei, vocês dois, que tal fazer um piquenique? – a mãe da menina chegou com um cesto nas mãos.

E só então Taís percebeu que era domingo. Aquele dia foi de festa, passeio e muita diversão. A menina de rostinho redondo ficou feliz por não estar doente de verdade, ou ela não teria aquele piquenique tão gostoso. E decidiu:

– Vou cuidar da minha saúde. E de mentira eu quero distância.

Texto: Vanessa Raquel
Ilustração: Ilustra Cartoon