O Menino Invisível

Mateus era um menino invisível – pelo menos ele acreditava que era. E foi invisível por um bom tempo!

A mãe ligava a TV para ele e o esquecia lá, sentado no tapete. Passava para lá e para cá, mas não o via.

Uma vez, a mãe o levou ao supermercado e quando chegou ao estacionamento, ela desceu do carro e o esqueceu lá dentro. Por sorte, também havia esquecido a bolsa. Quando voltou para buscar, Mateus pulou do carro e seguiu a mãe, quietinho, invisível.

O pai já passou na porta da escola e não viu o rostinho do Mateus entre as grades do portão, esperando por ele.

E até a professora um dia se assustou:

– Que susto! Você estava aí, hein? Não quis sair para o recreio?

Mateus ficava lendo na sala durante o recreio, aproveitando sua invisibilidade.

Os pais do Mateus trabalhavam muito. Incontáveis vezes o garoto acordou, e os pais já tinham ido para o trabalho. O menino invisível estava cansado de ser invisível. Então ele resolveu fazer alguma coisa.

Ele começou a aprontar na escola. A professora dizia:

– Vou chamar sua mãe para conversar.

E Mateus sorria.

O menino chegava em casa, pintava a parede com tinta guache, mas ninguém dizia nada. Mateus via com surpresa que tudo o que ele havia sujado estava limpo de novo. Mesmo assim, ele continuava invisível.

Menos para a avó. A vovó Tina sempre via Mateus. Ela ia à escola conversar com a professora, passava saliva no dedo e limpava os rabiscos de caneta em seu rosto.

Um dia ele disse para a avó:

– Sabia que sou invisível, vovó? Fico invisível e ninguém me vê. Só a senhora.

A vovó suspirou.

– E você gosta de ser assim?

Mateus balançou a cabeça em sinal negativo.

A avó se abaixou e olhou nos olhos do menino invisível. Estavam marejados.

– Para mim, você parece bem visível. E bem sujinho. Vá já para o banho! De repente é a sujeira que está escondendo esse menino sardento.

Mateus riu e, no chuveiro, pensou em como deixar de ser invisível.

O menino invisível acordou cedo e desceu as escadas correndo. A mãe estava sentada no sofá, com o telefone na mão. Mateus pulou no colo dela. E agarrou forte o pescoço da mãe. “Não solto!” pensou com determinação.

A mãe terminou de ler a mensagem e tentou levantar. Não conseguiu.

– Mateus! Você está pesado, hein? Agora preciso ir para o trabalho.

O menino deu um grito:

– Não!

– Eu preciso ir, menino – disse a mãe firme.

Mateus, falou bem alto:

– Mas eu preciso de você!

A mãe pensou em usar o velho argumento de que se ela não trabalhasse não teria dinheiro para comprar brinquedos, roupas… Mas… olhou bem para aquele menino comprido, seus cabelos estavam enormes e ele estava…

– Banguela! Mateus, você está sem o dente da frente?

O menino não estava tão invisível.

– Sim, mãe! Caiu na semana passada.

Mateus ficou de frente para a mãe e ela percebeu que ele estava magro, bem alto, banguela,  as mãos estavam grandes e os dedos compridos. Não havia nem sinal do bebê que ela havia colocado no berço “ontem”.

Os dois se abraçaram forte, e a avó chegou e viu aquela cena. Quis pegar os dois no colo e embalar. Mas os braços da vovó não suportariam o peso, então teve uma ideia:

– Que tal se a família tomasse um bom chá agora, hein? Posso fazer um bolo de fubá.

Nesse dia, Mateus deixou de ser invisível. E a mãe percebeu que o tempo leva os bebês e devolve meninos; leva os meninos e devolve homens. Só restava a ela aproveitar a companhia e criar boas lembranças.

A mãe do menino decidiu trabalhar menos e viver mais. Mateus precisava dela. Agora ela conseguia ver isso.

E a avó, na cozinha, batia um bolo de fubá sem conter o mar de alegria que fluía em seus olhos.

Texto: Vanessa