O menino-coruja

Já passava da meia-noite e Toninho ainda estava acordado. E o que um garoto de nove anos estaria fazendo uma hora dessas? Bem, naquela quinta-feira, ele estava jogando videogame. Já na quarta-feira, uma noite antes, ele ficou até tarde assistindo a um filme na TV. Na terça, entrou na internet e foi dormir quando já era de madrugada. Na segunda, telefonou para uma amiga e conversou com ela até mais de onze horas da noite. Depois disso, ainda assistiu a dois episódios do seu seriado favorito no computador e dormiu quase à uma da manhã. No domingo, Toninho jogou futebol com os colegas na quadra do bairro até tardão. Pior ainda foi no sábado, que ele dormiu na casa de um colega, mas na verdade não dormiu – virou a noite toda bagunçando.

– Ê, menino-coruja – dizia o pai do Toninho toda vez que o via acordado na frente da TV ou do computador tarde da noite. – Não faça como a coruja, que fica a noite toda caçando. Faça como a galinha, que dorme cedo e acorda com o sol – sempre repetia o pai.

– Pare com essa história de coruja e galinha! – resmungava Toninho. – Galinha só dorme cedo porque não tem computador – respondia, irritado.

Os pais já tinham tentado tudo; mas nada fazia o garoto dormir cedo. Já tinham deixado Toninho de castigo, sem computador – não deu certo. Tinham prometido um presente se ele mudasse o hábito – nada. Muitas vezes, fizeram sermões falando sobre os efeitos de ir para a cama naquele horário:

– Você sabia que dormir tarde causa sonolência durante o dia, aumento de peso, atraso no crescimento e até problemas no coração?

Mas nada adiantou.

Nem precisa falar sobre o problema que era levantar Toninho para ir à escola. Além de acordar reclamando, ele ia para a aula com a cara toda amassada e ficava cochilando enquanto a professora explicava os assuntos. Também nem precisa falar que as notas dele começaram a piorar – dormia durante a aula e à tarde, na hora de fazer as tarefas, dormia para tentar recuperar o sono perdido.

Sem saber como agir, os pais do menino-coruja resolveram não mais acordá-lo. Se ele se achava um adulto para dormir na hora que bem quisesse, também deveria ser adulto para cuidar da própria hora de acordar. Sem avisar nada ao filho, os pais decidiram começar o plano a partir da semana seguinte.

Na segunda-feira, Toninho acordou às onze da manhã! Imagine só! O garoto levantou desesperado, sem acreditar que tinha perdido todas as aulas. Reclamou com os pais por não o terem acordado e ficou de mau humor o resto do dia.

Na terça-feira, só levantou às dez horas. Foi outra confusão.

Apesar de faltar à escola por dois dias, na quarta-feira Toninho precisava ir às aulas sem falta, pois teria prova de matemática. Para não perder a hora, o menino-coruja colocou o celular para despertar bem cedo. Hum, mas quem disse que ele conseguiu acordar? Seu corpo estava tão cansado que, quando o celular tocou, ele ouviu, mas desligou o despertador e em menos de dois segundos pegou no sono novamente. Sabe a que horas ele acordou? Depois de meio-dia!

O resto da semana foi uma bagunça. Teve até um dia em que ele acordou às sete da manhã, mas quando chegou à escola o portão já estava fechado. No domingo da outra semana, Toninho não conseguiu acordar nem pra jogar bola com os amigos.

A situação estava difícil. O cansaço por causa das poucas horas de sono era tão grande, que o garoto não conseguiu mais cumprir as obrigações.

Depois de duas semanas atropeladas, sem horário pra dormir nem horário pra acordar, Toninho tomou uma decisão: abandonar o costume de coruja e se “empoleirar” cedo com a galinha – ou galo, no seu caso.

Os pais nem acreditaram quando Toninho lhes deu boa-noite pouco depois das nove.

– O que está acontecendo com você, filho! Está doente? – brincou a mãe.

– Se eu quiser crescer saudável, inteligente e com boas notas, preciso dormir dez horas por noite – disse Toninho, como se recitasse um texto decorado.

Os pais esboçaram um sorriso. Antes que eles falassem qualquer coisa, Toninho completou:

– E nem pensem que precisam me acordar amanhã. O menino-galo acorda com o sol – disse, piscando o olho para o pai.

Texto: Daniel Lüdtke

Ilustração: Ilustra Cartoon