O guarda-chuva esquecido

Mi era o nome de uma menininha esperta de cabelo preto escorrido e olhos que pareciam amêndoas. Sua família era cristã, sempre ia à igreja, orava, cantava em casa e lia a Bíblia. Mas Mi não estava nem aí pra tudo isso. Dizia que acreditava em Deus, mas não precisava dEle.

Mi amava jogar videogame, jogos de tabuleiro, esconde-esconde, enfim, gostava de tudo. Quando seus pais diziam que era hora de ir à igreja, entretanto, ela fazia cara feia e esperneava.

Certo dia, Mi estava na casa de uma colega quando caiu um temporal. Sem guarda-chuva, foi para casa a pé mesmo, chegando ensopada. Logo levou a maior bronca:

– Você não sabe que pode pegar um resfriado ou coisa pior? – disse a mãe nervosa.

No mesmo dia, Mi ganhou de seu pai um guarda-chuva lindo, todo rosa com coraçõezinhos vermelhos. Ela ficou radiante e prometeu que não iria mais andar se molhando toda.

Mas, naquela mesma noite, Mi começou a tossir e já de madrugada teve febre. No dia seguinte, ficou fraquinha e seus pais acharam melhor levá-la ao hospital. Naquele lugar estranho, cheio de pessoas doentes e homens de branco com seringas de agulhas pontudas, Mi começou a ficar com medo e começou a pensar em Deus.

– Mamãe, a senhora pode cantar pra mim aquela música que fala que Deus cuida da gente?

A mãe cantou baixinho no seu ouvido e ela acabou pegando no sono.

No dia seguinte, Mi abriu os olhos e já estava em casa. Seu corpo estava forte de novo e disposto para brincar. Seus pais ficaram contentes e disseram que deveriam se ajoelhar e agradecer a Deus por tudo ter dado certo. Antes que notassem, Mi correu e foi ver televisão. Não queria orar coisa nenhuma.

No outro dia, amanheceu chovendo. Antes de ir à escola, Mi pegou seu guarda-chuva novo e saiu desfilando com ele ao lado de seu pai, que estava com outro guarda-chuva, preto e bem grande.

Durante as aulas da manhã, a chuva parou e o sol saiu forte e brilhante, enviando seus raios para todos os lados. Quando tocou o sinal para o fim das aulas, Mi saiu em disparada da sala. Como o sol brilhava, nem se lembrou do guarda-chuva rosa.

Na hora de ir à escola na manhã seguinte, o céu começou a derramar lentamente algumas gotas e logo caiu um aguaceiro. Foi exatamente nessa hora que Mi lembrou sabe de quê? Do guarda-chuva.

Mi ficou desesperada. Na escola, ela procurou e procurou, mas nada!

Depois da aula, Mi voltou para casa aos berros.

– Se Deus sabe de todas as coisas, será que Ele não pode me ajudar a encontrar meu guarda-chuva? E se a gente orar? – disse Mi aos prantos.

Papai e mamãe se sentaram no sofá, perto da filha.

– Temos que conversar – começou a mãe.

– Existe um problema maior que o sumiço do guarda-chuva – emendou o pai.

Mi parou de chorar e esbugalhou os olhos querendo saber que problema era esse.

– Você trata a Deus como se fosse um guarda-chuva – continuou o pai. – Quando estão chovendo problemas, você se lembra dEle. Mas, quando tudo volta ao normal e o Sol aparece brilhando, você nem se lembra mais.

– Mas aí, quando voltam a chover os problemas, você mais uma vez se lembra de Deus e pede a ajuda dEle – completou a mãe. – Deus é grande demais para ser tratado por você como um simples guarda-chuva. Devemos amá-Lo e sempre fazer a Sua vontade.

Foi naquele dia que Mi entendeu que ela estava agindo de maneira errada com Deus. Decidiu orar mais, ir à igreja, ler a Bíblia e logo se tornou amiga de Deus. No fim da tarde, seu pai lhe trouxe outro guarda-chuva. Não era tão bonito quanto o primeiro, mas pelo menos ela nunca se esqueceu dele. E também nunca mais se esqueceu de Deus.