– Você não pode se sentar aí, novato! – avisou Téo rapidamente.
Aquele era o primeiro dia de Heitor na nova escola. Ele não conhecia ninguém e parecia que já estava fazendo alguma coisa errada.
– Este é o lugar do Jorge. Ele senta aqui desde o ano passado. Se ele chegar e perceber que você sentou no lugar dele… Ih! Vai ser uma confusão! – Téo desandou a falar.
– Ah… é… tudo bem… – Heitor respondeu sem jeito, colocando sua mochila em outra carteira.
Téo continuou por perto, fazendo um “relatório” de todos os colegas que entravam na sala. Antes que Heitor pudesse dizer qualquer coisa, Téo interrompia para falar de mais alguém:
– Chegou o sabe-tudo! É o Bruno. Ele tira as melhores notas da sala. Mas ele fica sempre com um livro na hora do recreio, nunca joga bola com a gente. Ele nem gosta de futebol.
E foi assim, com uma enxurrada de informações, que Heitor passou seus primeiros momentos na escola. Enquanto a professora apresentava os novos alunos, o garoto tentava memorizar o que já sabia de cada colega: o sabe-tudo, o encrenqueiro, a chorona, o tagarela… “Estou ficando perdido!”, pensou.
– E você é o… – disse a professora olhando para o Heitor.
Pego de surpresa com a pergunta, ele deixou escapar a primeira palavra que veio à cabeça:
– Perdido! Quer dizer, Heitor. Meu nome é Heitor – disse se ajeitando na carteira e torcendo para que ninguém tivesse ouvido o que ele tinha acabado de falar.
A professora sorriu e continuou perguntando os nomes dos novos alunos. “Ufa! Acho que ninguém ouviu!”, o garoto respirou aliviado.
Depois de conversar com os alunos, a professora mostrou algumas imagens no quadro e passou uma tarefa. Logo chegou a hora do recreio. Heitor viu os colegas apressados pelos corredores. Uns corriam para jogar bola, outros para a fila da cantina… Escolheu um banco longe de tudo e resolveu comer seu lanche ali.
Algum tempo depois, Heitor viu Jorge se aproximando. “Ele é o encrenqueiro”, pensou, lembrando do que Téo havia contado no começo da aula.
– Este lugar também é seu? – disse quando o garoto se aproximou.
– O quê? – Jorge perguntou sem entender. – Como assim?
Heitor explicou toda a história. Depois de ouvir, Jorge falou:
– Acho que o Téo não se lembra, mas eu tive um problema com meus óculos no ano passado. Por causa disso, a professora sempre fala pra eu me sentar na primeira carteira. É só por isso que eu fico naquele lugar.
– Ah… entendi! – Heitor respondeu, percebendo que o colega não era nem um pouco bravo, como Téo havia falado.
Não demorou muito, e Bruno veio se sentar por perto também. “Este é o sabe-tudo que não gosta de futebol”, Heitor pensou, percebendo que Bruno segurava um livro.
– Que livro é esse? – perguntou Jorge.
– É sobre os melhores jogadores de futebol de todos os tempos! – disse entregando o livro para o colega.
– Você gosta de futebol? – Heitor perguntou sem acreditar.
– Demais! Sempre jogo com meu pai e com meus primos. Só aqui que eu não jogo, porque nunca me deixam entrar no time.
Heitor balançou a cabeça. Estava se lembrando de tudo o que Téo tinha contado. “Quantos mal-entendidos!”, ele pensava.
Nos últimos minutos do recreio, os três conversaram sobre o que gostavam de fazer, e Heitor contou como era na outra escola. O “encrenqueiro”, o “sabe-tudo” e o “novato” estavam se tornando amigos. Quem diria? Pelo visto, Téo tinha se enganado em muitas coisas sobre os colegas. Talvez ele não soubesse de todos os fatos ou estava apenas contando o que tinha ouvido alguém dizer.
– Ei, Téo! Preciso contar uma coisa para você! – disse Heitor ao voltar para a sala.
E assim os mal-entendidos foram resolvidos. Os colegas que nunca se dariam bem se tornaram os amigos que não se desgrudavam por nada.
Texto: Anne