O casulo de Camila

  Todos entenderam? Se alguém estiver com dúvida, levante a mão.
A professora sempre fazia a mesma pergunta. Prestativa e amorosa, ela queria que todos os alunos compreendessem tudo que havia sido ensinado. Mas Camila estava em seu casulo. Ela até tinha uma dúvida, mas… não conseguia erguer o braço. Ela suspirava, desanimada, enquanto suava frio.

Tudo bem Camila?

  A professora se aproximou, acariciou os cabelos da aluna mais “quietinha”.
Camila era tímida. Quase não falava. E, quando era realmente necessário, saía um fio de voz. Ela não entendia o motivo de tanta timidez. Seus pais eram alegres, falantes. Mas ela não. Bom, ela era alegre, mas não conseguia expressar sua alegria. Ela pensava que iriam rir dela.
Todos os dias, Camila chegava em casa e pensava nas inúmeras possibilidades que havia perdido de manter um diálogo com alguém. Ela pensava no que poderia ter dito e em como isso teria sido divertido.
Sua mãe era compreensiva:

– Ora, filha… é o seu jeito. Não sofra por isso. E se sofrer, sofra só o necessário.

  Mas Camila queria se sentir livre. Ela queria se sentir leve. Queria sair do seu casulo e voar como uma borboleta.        Numa tarde, a menina acanhada resolveu pegar seu livro e continuar a leitura na praça. Camila gostava de ver os cachorrinhos correndo pela grama.
  No meio do caminho, ela pisou em seus cadarços desamarrados, desequilibrou-se e caiu. Cair na rua é constrangedor sempre, mas, para uma pessoa tímida, não existem palavras para descrever o embaraço. Assustada, olhou para um lado, olhou para o outro. E… Ufa! Não havia testemunhas. Mesmo assim, ela queria chorar. Não ralou o joelho, não se machucou nadinha. Mas ela sentia vergonha. De ninguém. Ou de si mesma. Sentou-se com cuidado no chão e procurou o livro.
– Olha aqui seu livro. Já li esse. Muito bom! Você se machucou? – uma menina morena com cabelos muito enroladinhos estendia a mão para Camila.

Hesitante e envergonhada, Camila estendeu a mão para a menina.

– Desculpa! Eu queria ter vindo ajudar antes, mas… – a menina gaguejou – É que eu estava tomando coragem.
Sou meio… tímida.
Camila sorriu. A garota continuou:
– Tive que me encher de coragem pra vir falar com você.
  Era um encontro inusitado. Duas meninas tomando coragem para começar uma amizade.
  Camila se levantou, limpou a poeira dos joelhos:
– Eu entendo. Sinto-me assim a maior parte do tempo. Você mora por aqui?
Assim, as duas meninas seguiram para a praça, conversando animadamente.
Descobriram muitos gostos em comum e mais:

– Não acredito! Você é da minha sala e eu nunca vi você?

– Eu sempre via você, quietinha, sentada ao lado da janela. Via você no recreio de vez em quando e pensava: “Eu bem que podia fazer companhia a ela. Mas…”

  A amiga nova da Camila se chamava Rita. Elas moravam pertinho uma da outra, estudavam juntas e nunca tinham se falado. Conversaram muito sobre timidez. E Rita disse algo que a fez pensar:
– Devemos respeitar nosso jeito de ser, mas ele não pode nos impedir de viver coisas legais. Estou feliz por ter ajudado você. Agora somos amigas!
Camila assentiu com a cabeça. E Rita continuou:
– Sempre que quero fazer alguma coisa que não conseguiria fazer por timidez, respiro fundo e penso: “Coragem, Rita!” E faço. Gosto de me imaginar corajosa. Nem sempre funciona, mas eu tento sempre.
  As duas falaram sem parar. Voltaram caminhando e conversando e prometeram ajudar uma a outra. No dia seguinte, na escola, sentaram-se em carteiras paralelas. Sorridentes, as duas amigas combinaram de erguer a mão e fazer perguntas à professora. Se uma levantasse e perguntasse, a outra teria que fazer o mesmo. Era divertido!
  No recreio, dividiam o lanche e brincavam de amarelinha. Rita e Camila corriam juntas. As duas, como asas de borboletas, deixando para trás o casulo. Camila se sentia feliz e segura. Ela descobriu que podia fazer muitas coisas, respirando fundo e tomando coragem.

Texto: Vanessa