O arrogante

Frederico, muito certinho e com ar de importância, olhava Tomaz trabalhando em sua área na horta da escola.

– A minha é duas vezes maior que a sua – assegurou Frederico.

Uma sombra de tristeza passou pelo rosto de Tomaz, enquanto ele contemplava a horta.

– Não creio. Olhe esses pés de beterraba e de alface.

– Mas são muito pequenos, os meus têm o dobro de tamanho.

– Sim – murmurou Tomaz – pode ser.

Frederico foi-se, muito satisfeito consigo mesmo. Depois da aula, enquanto se dirigia para casa, passou pela de Guilherme e viu-o assobiando enquanto fazia companhia para a irmã, a pequena Beatriz, que colhia rosas.

– Olá – interrompeu o orgulhoso. – Aposto que sou capaz de assobiar duas vezes mais forte que você.

– Eu não aposto nunca – respondeu Guilherme, surpreso.

– Ah! Porque sabe que posso.

– Não é por isso – respondeu o vizinho.

Os olhinhos azuis de Beatriz se abriram muito de medo, pois pensou que os dois meninos iam brigar.

– Viu minhas rosas brancas? Não são lindas? – interferiu ela, mostrando a Frederico um ramalhete.

– Ora, minha tia tem rosas vermelhas muito mais bonitas – respondeu-lhe sem qualquer cortesia e continuou seu caminho.

– Que antipático! – exclamou a pequena, voltando-se para o irmão. – Por que você não assobiou mais forte
que ele?

– Porque não posso assobiar com muita força – admitiu modestamente o menino. – E, além disso, não gosto de fazer isso.

– Isso me deu uma ideia – interrompeu-os uma bondosa voz.

– Que ideia, tio José? – perguntaram os irmãos. Em geral, as ideias do tio eram muito boas.

– Tenho observado o Frederico e creio que, em vez de discutir com ele, na próxima vez em que disser que alguma coisa sua é melhor, respondam-lhe que estão de acordo com ele e acrescentem que o que vocês possuem é como é porque vocês querem assim. Vou aconselhar isso aos demais meninos da vizinhança.

No dia seguinte, enquanto Frederico e Álvaro brincavam com seus carrinhos, o primeiro, como de costume, disse vaidosamente:

– Posso correr mais depressa que você.

– Sim – concordou Álvaro. – Mas eu não desejo ir mais rápido do que isso.

Frederico olhou, admirado, para o companheiro. Esperava uma discussão. Pouco depois, quando Guilherme se uniu a eles e lhes mostrou uma pipa que o tio José lhe dera, Frederico afirmou:

– Papai me deu uma muito maior.

– Que bom! – falou Guilherme. – Mas gosto desta. Tem o tamanho que eu queria.

Frederico mudou de conversa.

– Vamos patinar? – sugeriu, voltando-se para Álvaro.

Um momento depois, os meninos estavam de volta com seus patins.

– Meus patins são mais novos que os seus, e por isso posso patinar mais depressa – garantiu Frederico.

– Eu não trocaria os meus por um par novo – exclamou Guilherme. – Estou acostumado com estes e gosto muito deles.

Depois disso, várias vezes Frederico começou a se gabar, mas sempre encontrava respostas como aquelas.

Dias depois, ao passar na frente da casa do Guilherme e ver Beatriz colhendo rosas novamente, Frederico pensou em dizer que as de sua tia eram mais lindas, mas logo se lembrou da forma como todos os amigos lhe tinham respondido nos últimos dias e se calou.

– Beatriz, suas rosas brancas são muito bonitas, e não acho que as vermelhas de minha tia sejam melhores, mas vou trazer algumas de presente para você.

– Obrigada – respondeu Beatriz. – Acho que esta é a primeira vez que você não diz que o que é seu é mais bonito ou melhor.

O menino reconheceu que antes havia agido mal e se afastou.

O tio José apareceu e, dirigindo-se a Beatriz, disse:

– Parece-me que ele aprendeu a lição. Não será mais arrogante como antes, e agora sim o acharemos simpático.