Maldosa fofoca

 Marta abriu os olhos e cobriu o rosto com o lençol. A luz do sol incomodava, mas o que estava realmente aborrecendo a menina eram as lembranças das frases ouvidas na noite anterior: “Marta fofoqueira. Martinha linguaruda.” E a pior de todas: “Marta não é amiga de verdade.”

A mãe da menina bateu à porta:

– Bom dia, moça! Dormiu bastante, não é?

A garotinha sorriu desconcertada.

– Filha, troque de roupa. Precisamos de você lá na sala.

Marta colocou as mãos no rosto e começou a chorar.

– Você fez muitas confusões nos últimos dias, filhinha. Sei que não vai ser fácil. Mas vamos colocar tudo em ordem.

– Será que vou ter minhas amigas de volta? – perguntou enxugando os olhos.

– Fofoca é um problema muito sério, filha. Quando uma pessoa conta um segredo é porque confia em você. Quando alguém faz qualquer comentário a respeito de outra pessoa, a gente deixa para lá.

Os olhos da Marta se encheram de lágrimas. E a mãe continuou:

– Fofoca é igual pipoca: quando estoura, todo mundo quer comer um pouquinho.

Marta estava sentindo isso na pele. Na noite anterior, ela e suas amigas se divertiam numa noite do pijama. Todos se divertiam e ela resolveu ir ao banheiro. Passou em frente à porta da cozinha e viu a mãe de Sabrina dando uma bronca na menina. Sabrina havia comido chocolate, e Marta não entendia por que isso era um problema, até que ouviu:

– Sabrina, você sabe… Não pode comer açúcar, você tem diabetes.

Marta vasculhou o próprio cérebro tentando lembrar o que era diabetes. Não lembrou exatamente, mas sabia que era uma doença. Voltou correndo para a sala e cochichou no ouvido das meninas… Em instantes, todas sabiam que Sabrina tinha uma doença e se perguntavam se era contagiosa.

Foi uma grande confusão! E o resultado foi a mãe da Sabrina explicando a todas o que era a tal diabetes.

Todas olharam para Marta e foi uma chuva de acusações. Aquilo doeu muito, e Martinha se sentiu só. Fugiu para o quintal de Sabrina, ligou para a mãe e não aproveitou a festa do pijama.

Marta estava triste, relembrando cada sentimento. Então a mãe a interrompeu:

– Venha, filha. Vamos descer para conversar.

A mocinha se levantou e desceu devagar as escadas. Antes de chegar na metade, viu a cabeleira loira da Sabrina. Ela sentiu um nó na garganta. Mas, quando ouviu passos na escada, Sabrina se virou sorrindo.

Marta desceu depressa e em instantes imaginou um pedido de desculpas, mas antes que pudesse falar qualquer coisa sentiu o abraço da amiga.

As duas choraram abraçadas. Eram amigas desde sempre. Tinham fotos de quando eram bebês, sempre juntas.

Com a voz entrecortada, Marta disse:

– Por favor, me desculpe, Bina. Eu não tenho sido amiga de verdade. Mas eu quero ser.

Sabrina  falou sorrindo:

– Não posso perder uma amiga divertida como você.

A mãe da Marta se ajoelhou perto das meninas e falou:

– Filha, não perca uma amiga como a Sabrina. Ela a perdoou antes mesmo que você pedisse.

Martinha prometeu se controlar. Podia contar agora com o apoio da sua melhor amiga.

– Ei, Marta! Vamos parar com esse chororô! Sobrou muita comida da festinha. Precisamos terminar nossa comemoração – convidou Sabrina.

Marta confusa questionou:

– O que estávamos comemorando mesmo?

Sabrina e a mãe de Marta riram cúmplices.

– Era um segredo: uma festa surpresa para você. Íamos comemorar seu aniversário. Fizemos até um bolo. Mas não se preocupe, ainda está inteirinho! – respondeu a amiga.

A menina riu envergonhada. Definitivamente não poderia trocar uma amizade tão especial por uma fofoca.

Texto: Vanessa Meira