Limão

Limão era o apelido do Marco Antônio. Ele já foi chamado de Marquito, Marcão, Marcolino… Mas o apelido dele mudou. E ele, que nunca se importou muito com apelidos, resolveu entender por que o chamavam desse jeito.

– Ora, Marco, é simples! Você é azedo feito limão – falou com sinceridade seu primo Lucas, que, com exceção da mãe do garoto, era o único que ainda o chamava pelo nome.

Marco Antônio ficou bravo:

– Azedo? Isso lá é qualidade de gente?

E saiu esbravejando.

O fato é que Marco era mal-humorado. Reclamava se chovia e se fazia sol. Reclamava do presente de aniversário que a avó tinha comprado. O menino se zangava se a professora passava muita coisa para copiar e também se havia pouca matéria na lousa.

Limão jogava bola resmungando.

– Passa a bola, Paulo. Pipoqueiro! Não solta a bola… Não dá pra jogar com você.

Marco acordava bravo pelo simples fato de ter acordado; e reclamava porque tinha que ir à escola e, depois, porque tinha que ir embora.

Ele comia verduras, legumes, frutas… Mas sempre resmungando.

Certa manhã de piquenique, bem ensolarada, o pai fez um desafio:

– Se você passar o dia sem reclamar de nada, vou lhe fazer uma surpresa.

– Hunf! E que surpresa seria essa? Preciso saber se vale a pena.

– Pague para ver – disse o pai pegando o cesto de vime cheio de lanches.

O menino não disse nada, mas topou o desafio sem reclamar.

Quando chegaram perto da cachoeira, todos esperaram Marco reclamar do barulho ou das gotinhas de água que respingavam em todos. Mas, dessa vez, não houve reclamação.

Limão não reclamou do lanche. Não hesitou em pegar um sanduíche de patê de cenoura. O menino riu e se divertiu. Correu, nadou…

De vez em quando, o garoto ia dizer alguma coisa e desistia. Olhava para o pai com olhar de desafio. E o pai sorria.

O dia passou muito depressa. Lucas e Marco estavam nadando numa piscina natural que se formava numa queda da cachoeira quando a mãe do Limão chamou:

– Vamos, meninos! Hora de ir pra casa.

Marco Antônio começou a dizer alguma coisa:

– Ah, mãe…

Mas parou, vendo o sorriso do pai.

Logo, todos estavam no carro indo de volta para casa. Lucas nem bem ouviu o ronco do motor e já estava dormindo.

Limão se inclinou para o banco do motorista e sussurrou:

– Ganhei a aposta. Pronto! Onde está minha surpresa?

O pai, sem tirar os olhos da estrada de terra, falou calmamente:

– A surpresa é: um dia incrível num lugar sensacional, com seus pais e seu primo favorito. Cachoeira, comida gostosa e diversão. Minhas apostas eu pago adiantado.

O rapazinho quase se sentiu enganado. Queria cruzar os braços e resmungar. Mas pensou bem… Havia tido um dia realmente especial. E não disse nada, mas percebeu que sem reclamar as coisas pareciam mais legais.

– Filho, a vida pode ser muito divertida. Quando a gente aprende a valorizar os momentos e reclamar menos, tudo tem um sabor diferente. A vida perde o sabor azedo do limão.

Marco Antônio achou graça. E não é que o pai tinha razão?

– Limão é bom na salada e no suco. Puro, é mesmo bem azedo, pai...

O pai sorriu e trocou um olhar rápido com o filho pelo retrovisor do carro.

O garoto percebeu o quanto a vida pode ser doce.

 

Texto: Vanessa