– Shhh! Silêncio! Ei, estamos em uma biblioteca. As pessoas que estão aqui precisam de silêncio para se concentrar e ler.
A Turma da professora Lídia gostava da biblioteca e não conseguia conter a alegria semanal de poder escolher um livro e levar para casa.
Bom… Na verdade, nem todos estavam assim tão felizes. No canto da biblioteca, estava Gabriel, de olhar perdido e braços cruzados.
– E então, Gabriel? – perguntou a professora. – Já escolheu seu livro desta semana?
– É obrigatório? – Gabriel piscou os pequenos olhos negros. – Sou obrigado a pegar um livro?
A professora respirou fundo, procurando na mente uma palavra que substituísse “obrigatório”, mas que dissesse a mesma coisa.
– Vamos fazer uma coisa, Gabriel? Amanhã é véspera de feriado prolongado. Sei que você vai fazer uma longa viagem com seus pais. Eu mesma vou escolher seu livro até amanhã. Pode ir para a sala.
“Ufa!”, pensou Gabriel, “por hora, estou livre.”
Pode parecer um absurdo, mas Gabriel não gostava de ler.
No dia seguinte, a aula acabou muito depressa e parecia que a professora Lídia tinha se esquecido da promessa do dia anterior. Gabriel estava querendo escapar do livro que a professora escolheria para ele.
“Ler? Prefiro jogar bola”, pensava o garoto.
Enquanto todos ajuntavam os materiais e se despediam, Gabriel percebeu em cima da mesa da professora um embrulho de presente. Pegou a mochila e…
– Gabriel, venha aqui, por favor.
A professora Lídia o chamou, sorrindo.
– Tome. É o seu livro da semana. Não precisa devolver. Este é seu, para ler na viagem.
Gabriel ficou surpreso ao ver a professora estendendo o embrulho colorido em sua direção.
– Obrigado. Eu preferia uma bola de couro, mas presente é sempre bom – disse o garoto em tom de brincadeira.
A professora Lídia disse que ele ia gostar muito, mas Gabriel duvidou. Ele foi para o carro, onde a família o esperava. Jogou o livro em um canto do banco e entrou rapidamente.
A viagem seria muito longa!
Logo, o menino se cansou de olhar a paisagem, de brincar de charadas com a mãe e, entediado, viu o presente.
– Humm… Vamos ver. De repente, tem figuras, imagens…
Ele rasgou o embrulho e leu o título: Curiosidades do mundo dos esportes – Futebol.
– Uau! Um livro sobre futebol.
– Um livro? Que coisa excelente! – exclamou a mãe. – Você vai fazer duas viagens em uma.
A princípio, ele apenas olhava as imagens, mas algumas delas precisavam de uma explicação. Então ele lia… E foi lendo até que o pai parou o carro, anunciando:
– Chegamos!
O passeio foi muito bom! Eles tinham ido visitar uma tia do pai de Gabriel. Ali, havia pomar e muitos animais. Foi bem divertido, mas o menino continuava pensando no livro. Curiosamente, ele se viu ansioso para retomar a leitura.
Será que ele estava gostando de ler?
Gabriel jogou futebol, tomou banho de cachoeira, comeu frutas no pé, e logo estavam no carro se despedindo da Tia Paulinha.
– Que sítio lindo! – dizia mamãe.
– Os animais tão bem cuidados, não é? – falava papai.
– Onde está meu livro? – perguntava Gabriel.
A viagem de volta foi de total leitura. Mamãe lendo no banco do carona e Gabriel lendo no banco de trás. Papai só lia placas. E eles trocavam informações:
– Sabia que o Brasil perdeu a copa de 1950 em pleno Maracanã, papai?
– Filho, a lança de Golias pesava mais de seis quilos. Uau! – a mãe de Gabriel gostava muito de ler a Bíblia.
– Ih, gente… Perdi o retorno. Alguém conseguiu ler o que estava escrito naquela placa?
Gabriel se divertiu tanto dentro do carro (e do livro) quanto no sítio da Tia Paulinha. Quando o carro entrou na garagem de casa, o menino se deu conta de que havia lido seu primeiro livro todinho. Ele ligou para a professora Lídia e contou tudo isso.
– É assim mesmo, Gabriel! A gente começa lendo sobre um assunto de que gosta muito. E, depois, vai variando. Que bom que gostou do seu companheiro de viagem!
A professora desligou o telefone muito feliz. Nascia mais um leitor, bem ali em sua turma.