Eu já estava na biblioteca. Nem me lembro como cheguei ali. Sempre preciso de um cochilo depois de almoçar, mas tinha que escolher um ou dois livros para passar o fim de semana prolongado. Eu já havia lido os livros que tinha em casa e queria muito ler algo novo.
Se eu estava confusa ao chegar à biblioteca, você não faz ideia de como me senti nos momentos que se seguiram. Um completo absurdo!
Tudo começou quando peguei um livro de histórias de um autor de quem gosto muito. De repente, o livro começou a crescer em minhas mãos, ficou enorme e de dentro dele pulou uma boneca de pano com cabelos coloridos.
– Oi! Você escolheu nosso livro para ler no fim de semana?
Eu olhava espantada para ela.
– Você é a… a…
A boneca completou:
– Ervilha! Sim, sou eu. Uma boneca falante. Ok, não existem bonecas falantes, eu sei. Mas minha dona imagina que eu falo e a gente vive muitas aventuras inventadas. Ei, nos leve para casa. Você não vai se arrepender!
Antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, a boneca pulou para dentro do livro; ele encolheu e logo estava do tamanho normal.
Cocei a cabeça, meio atordoada. Deixei aquele livro na mesa e peguei outro, de poesias.
E imagine… O livro cresceu! De dentro dele, pulou uma menina vestida de bailarina.
– Olá! Eu sou uma menina que quer ser bailarina. Viu minha estrela e meu véu em meus cabelos? Estou elegante, não estou? Você gosta de poesias?
Respondi completamente boquiaberta:
– Sim! Gosto muito de poesias.
– Ora, leve meu livro para ler no fim de semana. Você vai amar.
E a menina se inclinava para lá e para cá, como se o vento estivesse soprando ali.
Antes que eu fechasse a boca, a menina bailarina já havia voltado para dentro do livro. Deixei o livro do jeitinho que ele estava, em cima da mesa, ao lado do outro.
Eu estava atrapalhada e cuidava para não pegar um livro de guerra. Já pensou se, do nada, começam a pipocar soldados pela biblioteca?
Bom, em seguida peguei um livro de “O que é, o que é” (algumas pessoas chamam de charadas). E… exatamente! Você adivinhou. O livro ficou gigante e de dentro dele saiu um moço vestido de bobo da corte.
– Ahá! É nome de mulher e nome de homem. Ia mas acabou não indo? Responda rápido!
Eu não estava conseguindo acreditar que tudo aquilo estava acontecendo. Não conseguia sequer entender a pergunta, não tive como responder.
– Ora, ora, mocinha. A resposta é ISAÍAS… ISA-ÍAS, entendeu? Há, há, há! Muito boa, não?
Ri porque não tinha alternativa, mas respondi a essa pergunta:
– Não! Que piada horrível! Seu livro tem charadas boas ou só desse tipo que você contou?
O bobo da corte riu alto.
– Ah! Você vai ter que levar para saber. Gostei de você, moça. Você tem um excelente humor.
Então, ele pulou de volta para o livro.
Que surreal! Peguei depressa um livro de História. E… bom, você já sabe. De dentro dele saiu um homem vestido como um português. Antes que ele falasse qualquer coisa, arrisquei:
– Já sei! Você é o Pedro Álvares Cabral. Acertei?
O homem me olhou com um sorriso.
– Errou, senhorita. Você precisa estudar um pouco mais a história do Brasil. Leve nosso livro. Sou Pero Vaz de Caminha. Você tem uma caneta para me emprestar?
Sentei em uma cadeira para tentar entender o que estava acontecendo ali. Foi quando senti uma mão no meu ombro…
“Que susto! Será que abri um livro de suspense sem querer?”, pensei em uma fração de segundos.
– Moça! Ei… Mocinha… Você já escolheu seus livros? Precisamos fechar a biblioteca.
Mas é claro! Eu estava debruçada na mesa da biblioteca, dormindo profundamente quando o bibliotecário me acordou.
– Opa! Desculpe-me! Vou levar estes quatro aqui.
Levantei devagar, com o rosto amarrotado e um sorriso engraçado no rosto.
Gosto muito de livros. Eles me fazem viajar. Dessa vez, viajei com eles fechados. Imagine quando chegar em casa e começar a ler. Ler é realmente divertido! Saí da biblioteca sonhando.
Texto: Vanessa Meira