A inimiga da perfeição

Giovana era assim: apressada. Fazia tudo rapidamente e achava todo mundo muito lento. Algumas pessoas diziam que ela era ansiosa, inquieta, acelerada, ligada na tomada. Mas ela não se importava. Parecia até que gostava do tratamento:

– Essa Giovana é uma espoleta! – diziam as vizinhas.

– Já copiou tudo? Essa menina é um raio! – brincava a professora.

– Não acredito que você já lavou toda a louça? – nem a mãe acreditava na esperteza da menina.

Mas, na verdade, nem sempre o trabalho era bem feito. Nos textos que a Giovana copiava, sempre estava faltando um parágrafo ou dois. E a louça nem sempre ficava limpinha.

– Faço tudo depressa, e vocês ainda querem perfeição?

Uma vez, a família se reuniu para fazer bolachas confeitadas. As bolachas da Giovana não assaram. A menina ficou tão afoita que tirou tudo do forno sem sequer conferir se estavam prontas.

A professora da Giovana havia perdido a conta de quantas vezes a garota tinha chegado em sala de aula sem material. Descia do carro correndo e deixava a mochila para trás.

Nada que exigisse tempo e paciência dava certo com a Giovana.

– Sou a menina mais rápida do oeste, do leste e até do faroeste – dizia em gargalhadas.

Até a experiência de plantar uma semente de feijão no algodão deu errado com ela. Não se sabe se ela molhou o algodão demais ou se tentou acelerar o processo rompendo a casquinha do feijão.

A mocinha não se importava. O que ela queria era viver a vida inteira em um dia só. E se pudesse, em uma manhã!

Certa manhã tudo começou a mudar.

– Oi, filha. Hoje vou realizar um dos seus sonhos – avisou o pai com um sorriso brilhante.

A Giovana torceu as mãos:

– Meu sonho é ter rodinhas nos pés, pra poder chegar logo a todos os lugares.

O pai da garotinha sardenta riu bem alto.

– Acertou, mocinha afobada! Patins; foi o que comprei pra você.

A menina não podia acreditar. Pulou na frente da caixa e se pôs a rasgar todo o pacote. Mas o pai ainda tinha mais uma surpresa:

– Seus primos vão chegar hoje. Todos nós vamos patinar na pracinha. Até sua mãe ganhou um par.

Mas a Giovana não ouvia nada quando estava eufórica. O pai subiu as escadas para se trocar e ainda disse:

– Vai ser uma aventura e tanto! Em dois minutos, estarei pronto.

Dois minutos era muito tempo para aquela menina impaciente. Ela calçou os patins e ficou em pé. Sentou e começou a deslizar os pés no piso da sala.

De repente, a menina deu um salto:

– Já sei! Enquanto os meninos não chegam, vou treinar aqui em frente de casa.

A rua da casa da Giovana era bem inclinada. Não chegava a ser uma ladeira, mas tinha um declive bem delicado para quem estivesse de patins.

A garota inclinou levemente o corpo para frente, abriu os braços, firmou as pernas e começou a descer a rua devagar. Assim como a Giovana, os patins eram apressados. Ela logo estava ouvindo o vento assoviar, seu cabelo caía no rosto e tapava a visão. O coração da pobre Giovana estava aos pulos. E, como era de se esperar, a menina tentou parar e não conseguiu.

Ela não soube dizer o que bateu no chão primeiro: os joelhos ou os cotovelos, mas o fato é que a Giovana rolou pelo asfalto.

Quando finalmente parou, pôde ver o pai descendo a rua correndo com os três primos.

– Filha! Você está bem?

– Sim! – respondeu envergonhada, estendendo a mão para ter ajuda e levantar.

Pés descalços no asfalto e despenteada, a mocinha subiu a rua lentamente.

O saldo da aventura: cotovelos e joelhos ralados e alguns hematomas pelas pernas. Mas o pior foi ter estragado o passeio de todos. Os primos e a Giovana tiveram que ficar em casa, jogando dominó. Tudo por causa da pressa da garota!

– Vocês me perdoam? Eu não queria estragar o passeio. A manhã poderia ter sido perfeita…

– Está tudo bem! Agora você entende por que a pressa é inimiga da perfeição? – perguntou Luís, o primo mais velho.

Todos riram, e cada um contou o tombo da Giovana do ângulo que tinha visto. Giovana aprendeu a lição, abraçou o pai, agradeceu o presente e disse:

– Pai, me ensine a andar nesse negocio só quando os ralados pararem de arder. Pode ter certeza de que agora eu consigo esperar.

O pai da garota achou graça e completou:

– Que bom saber que você conseguiu aprender uma lição com o que aconteceu hoje! Paciência é muito importante. É como andar de patins: tem de treinar. A Giovana sorriu e, quando olhou a escadaria que dava para o quarto, deve ter pensado: “Ai, vou subir um degrau de cada vez.” E assim foi, devagar, deixando a pressa em cada degrau que ficava para trás.

Texto: Vanessa Meira