Férias sem energia elétrica

– Vão ser as piores férias da minha vida! – gritou Marcos num canto da sala.

Melissa, do outro lado, chorava como se o mundo fosse acabar.

– Vocês não precisam fazer esse escândalo todo. O sítio do Tio Aldo é ótimo – disse a mãe, tentando acalmar os filhos.

Marcos e Melissa achavam o sítio do tio Aldo muito parado. Mas, como tinham que ir, resolveram levar o videogame e opções de vários jogos, o MP4 e o DVD para ligar à velha televisão do tio e assistir a muitos filmes. Também pediram ao pai o notebook com um aparelho de internet móvel, que permitiria a conexão com o mundo civilizado. Agora as férias seriam ótimas de verdade!

Depois de horas de viagem, viram a velha porteira perto de um grande pé de jaca e, atrás dele, o gordo tio Aldo tentando fazer graça.

– Surpresa! – disse o tio, saindo de trás da árvore. – Estas vão ser as melhores férias de vocês – disse empolgado.

– Ahan… com certeza! – Marcos falou baixinho
para Melissa, apontando para a mala cheia de
aparelhos eletrônicos.

Mal entraram na casa, as crianças foram tirando os equipamentos. Passaram a noite jogando videogame.

No dia seguinte, quando os pais levantaram para tomar café, Marcos e Melissa já estavam vendo filmes havia muito tempo. Depois que se cansaram, foram para a internet.

Tudo estava indo maravilhosamente bem, até que à tardinha caiu uma chuva forte. As crianças ficaram morrendo de medo por causa dos trovões. Depois de um tempo, um barulho enorme. Um raio caiu em algum lugar do sítio e a energia foi embora. O tio foi ver o que tinha acontecido. Ele explicou, mas os meninos não compreenderam. Só entenderam uma coisa: não haveria energia elétrica pelo resto das férias.

– Aaaaaaah – gritaram indignados. – Como assim? A gente vai ficar neste fim de mundo sem energia? – berraram. Eles não podiam acreditar.

Logo chegou a noite. O tio bateu na panela e chamou a família para o jantar. A cozinha estava toda decorada com velas e o tio Aldo, vestido de garçom. Foi o jantar mais engraçado que eles já tinham visto. Depois de comer, a família continuou em volta da mesa contando histórias engraçadas do passado. O tio era o mais palhaço. Começou a contar piadas e todos riram até a barriga ficar doendo. Depois, ficaram jogando dominó até tarde. Como aquilo foi bom!

No dia seguinte, o sol apareceu brilhante. O tio Aldo foi acordar os meninos para andar a cavalo. Que emoção! Parecia coisa de filme. De tarde, todos foram para a lagoa. Marcos ficou nos ombros do pai e Melissa nos ombros do tio. A mãe ficou na torcida.

O tio Aldo também deu um livro para cada um. No começo, eles não ficaram com muita vontade de ler, mas depois gostaram. Cada um leu dois livros durante as férias, sendo que o Marcos nunca tinha lido um livro até o fim em toda a vida.

O Marcos também começou a tocar violão nas férias. O tio Aldo tinha um violão antigo
pendurado na parede. Ensinou o sobrinho a tocar alguns acordes e, no fim das férias, o menino
já tirava um sonzinho.

A única coisa ruim das férias foi a despedida. Por incrível que pareça, ninguém queria ir embora, mesmo sem energia elétrica no sítio.

Na hora do abraço final, o tio deu um livro de histórias para cada um. As crianças vibraram. Depois, para surpresa de todos, deu o velho violão para Marcos. Agradecido, ele tocou “Parabéns pra você” com uma letra que inventou na hora:

Nestas férias fiquei

Até sem energia.

Aprendi que sem ela

Curto bem minha vida.

 

Texto: Daniel Lüdtke