Espreguiça e espicha

No pomar do Seu Antônio tem muitas árvores frutíferas, mas nenhuma igual à bananeira. Ela nasce e cresce se espreguiçando e se espichando como uma criança sonolenta. Folha por folha, vai saindo de seu caule em forma de canudo, que depois desenrola, desenrola, até se parecer com um longo abanador. O conjunto de folhas forma uma peteca gigante, cobrindo o pé de banana igual a um cocar de índio ou a um grande guarda-sol, protegendo a bananeira do forte calor.

Ela desabrocha para crescer, descascando-se toda. Quando para de sair folhas do caule, aparece um coração recheado de bananas. O coração da bananeira também vai se desabrochando; é possível ver os frutos verdinhos e pequeninos, até o cacho aparecer por completo. As bananas, ainda verdes, vão granando, aumentando de tamanho, enchendo feito bexiga e balão.

Após colher o cacho, Seu Antônio corta o pé de bananeira porque já cumpriu sua missão. Ele então o enrola com jornais para que amadureça rapidinho. Quando a cor do cacho passa do verde para o amarelo, então os netos do Seu Antônio avançam e devoram as pencas. A criançada descasca a fruta igualzinho o desabrochar do pé de bananeira.

E quando pensa que tudo já se desenrolou, começa a brotar do toco da bananeira uma muda bem pequenina; ela vai se espreguiçando e se espichando com força, coragem e muita dedicação. E assim recomeça mais um ciclo de vida no pomar do Seu Antônio.

Enquanto isso as crianças continuam brincando pelo quintal sem perceberem que crescem rapidamente feito pé de bananeira!

Texto: Márcio Ribeiro