– Não há nada de errado comigo! – explicou Martina. – Eu só não quero ser a única menina da turma que não tem a boneca Lily!
– Mas, filha, todas as meninas da sua turma têm esta boneca, mesmo?
– Sim, mãe, todas.
– E tudo bem para você querer ter tanto uma coisa só porque outras pessoas têm?
– Qual é o problema?
– O problema, minha filha é que eu não acho que esse seja um bom motivo para gastarmos dinheiro. Pense bem: qual é a vantagem de se fazer algo apenas porque todos estão fazendo? Qual é a vantagem de ser igual a todo mundo?
– Espere aí, mãe. Assim você me confunde! Não é você quem vive dizendo que eu não sou melhor do que ninguém e que, para Deus, todas as pessoas são iguais?
– Sim, Martina. Digo mesmo, mas é para que você saiba que não importa se uma pessoa é rica ou pobre, branca ou negra, magrinha ou gordinha, Deus ama a todas, igualmente. Não significa que eu queira que você seja exatamente igual a todas as meninas da sua classe. Se fosse assim, o que tornaria você tão especial?
Martina ficou pensando sobre aquelas palavras. “O que me torna especial?” “O que me torna diferente?” “O que vai acontecer na hora do recreio, quando todas as minhas amigas estiverem brincando com suas bonecas Lily e eu não?” Aquelas perguntas ficaram rondando a cabeça de Martina, como se fossem mosquinhas ao redor de uma fruta madura.
Ela pensou em todas as pessoas “diferentes” que conhecia ou tinha ouvido falar. E percebeu que o que tornava aquelas pessoas especiais era a capacidade de escolher algo que não fosse bom apenas para si, mas também para os outros.
Mais tarde, antes de dormir, Martina chamou os pais para conversar:
– Mãe, pai! Sabem aquela família que mora perto da casa da Vó Nita, para quem nós sempre levamos uma cesta de alimentos no Natal?
– Sim, sabemos – responderam os pais, curiosos para saber onde a filha queria chegar.
– Pois estive pensando. Aquelas meninas gêmeas devem ter quase a minha idade. No ano passado, quando fomos lá, vi que elas não têm muitos brinquedos. O que vocês acham de comprar uma boneca Lily para elas? Eu poderia doar minha mesada deste mês para a compra e vocês completariam com o que faltasse. Que tal?
Os pais concordaram e ficaram emocionados com a atitude de Martina. Tudo bem ela querer ter a boneca da moda, mas foi melhor ainda ela pensar nas outras pessoas antes de pensar em si mesma.
Martina entendeu muito bem que o que torna as pessoas especiais e diferentes umas das outras é o amor que elas são capazes de expressar, não apenas em palavras, mas também em ações. Ela descobriu que ser diferente desse jeito é muito mais legal do que ser igual a todo mundo!
Texto: Fabiana Siqueira
Ilustração: Ilustra Cartoon