Desculpas

André era um menino “excelente”, de acordo com a avó dele.  Era educado, divertido e estudioso. Mas ele tinha um grande problema: André nunca havia pedido desculpas a ninguém. E nada o convencia a se desculpar. Sua mãe já nem sabia mais o que fazer; muita gente
já havia tentado ajudar, mas sem sucesso.

Se ele esbarrasse na vovó ao caminhar pelo corredor, em vez de se desculpar, ele a culpava:

– Ah, vovó. Por que tem que ficar bem no meio do corredor?

E, na sala de aula, quando a borracha que ele passava para o colega caía no chão:

– Ô Juliano, presta atenção! Está com a mão mole, é?

Se pisasse no pé do papai…

  Meu pai vive com o pé no meio do meu caminho.

Se caíssem farelinhos de bolacha no chão que a mamãe tinha acabado de limpar, ele logo apontava para o cachorro e dizia:

– Viu o que você me fez fazer, Luke?

E a lista de desculpas para não se desculpar
era imensa.

Sua tia ainda tentou explicar:

André, por que você não passa a pedir desculpas? Isso seria bom pra você e para as pessoas ao seu redor. Pedir desculpas não significa agir de maneira humilhante. Pelo contrário. Quando você aprende a se desculpar, se torna uma pessoa melhor, pois consegue reconhecer que algo não saiu como você esperava. Assim, você conquista uma nova chance para fazer algo, mas da forma correta.

Apesar de todo o esforço da tia, não havia conversa com André.

– Ah, tia! Eu entendi o que você falou, mas eu acho que as coisas que acontecem sem querer não precisam ser desculpadas. E, se eu não tive culpa, então por que pedir desculpas?

Certo dia, numa divertida aula de artes, os alunos estavam animados, andando pra lá e pra cá… Pincéis, tintas, copinhos com água…

André resolveu levar mais potes de tintas do que suas mãos conseguiam carregar. Ele levantou todos os potes acima da sua cabeça e tentou passar pela carteira da Larissa, sua melhor amiga. Ainda deu tempo de ver o sorriso dela antes que…

Ploft! Um pote de tinta azul caiu inteirinho em cima daquela amiga de quem ele tanto gostava.

Foi uma correria. A professora tentava ajudar Larissa a tirar a tinta do cabelo, do uniforme… Foram para o banheiro juntas, e André aproveitou a confusão para sair da sala sem que ninguém o notasse. Ficou escondido perto da cantina, envergonhado. Mas não queria ceder e se desculpar.

De longe, ele percebeu que o burburinho havia terminado. Resolveu voltar.

Encontrou Larissa sentada perto do bebedouro, num banquinho ao sol, com os cabelos molhados. Foi se aproximando devagar, pensando em mil coisas ao mesmo tempo. Olhou para a amiga, a camiseta meio manchada… O sol iluminava seu rosto.

Em meio a toda a confusão, ela sorriu como sempre fazia, pois era sua melhor amiga, ainda que estivesse toda suja de tinta.

Diante disso, André se sentiu ainda mais constrangido.

– Senta aqui, André. O sol está bem quentinho.

Larissa se afastou um pouco, André se sentou e começou, vagarosamente, a falar:

– Lari, sabe… É… Foi… Foi sem querer.

– Eu sei. Você não seria maluco de me jogar um balde de tinta na cabeça! – Larissa disse, cutucando a barriga dele com o cotovelo.

André engoliu o orgulho:

– Por favor, me d-des-culpa!

Silêncio.

Larissa deu uma risadinha e falou, enquanto se levantava:

– Claro que desculpo. Você é meu melhor amigo! E pode deixar: não vou contar pra ninguém que você me pediu desculpas.

Os dois voltaram para a sala, e ninguém por lá tocou no assunto durante o resto da aula. André voltou para casa muito feliz. Havia rompido uma barreira incrível.

Entrou correndo em casa, ansioso para esbarrar em alguém. Viu o quanto era fácil se desculpar. Portanto, não precisava mais economizar na gentileza.

De fato, André aprendeu a ser um menino excelente de verdade.