De coração aberto

Laura acordou triste naquele dia. No fim da tarde, ela se mudaria com a família para outra cidade, bem longe daquela em que morou por tanto tempo. Seu pai tinha sido transferido no emprego e ela, a mamãe e o irmão tinham que acompanhá-lo. Ela estava triste porque teria que deixar os amiguinhos da rua, os colegas de escola, a professora e tudo o que ela aprendeu a amar até ali.

A mãe de Laura, percebendo o desânimo da filha, sentou-se ao seu lado e conversou sobre o assunto:

– Você está muito triste, não é mesmo?

– Demais. Eu gosto tanto das crianças aqui da rua, da minha escola, da minha professora, desta casa, de tudo aqui. Não queria ter que me mudar.

– Eu sei, Laura – a mãe também gostava dali – mas é preciso ir. Quem sabe, chegando lá, também encontraremos pessoas a quem possamos amar e coisas das quais vamos gostar muito!

– Duvido.

– Deixe o coração aberto e, quem sabe, você se surpreenderá!

Laura ficou pensando nas palavras da mãe. No dia seguinte, bem cedinho, eles já estavam na casa nova. Enquanto os adultos descarregavam a mudança e iam ajeitando tudo, Laura foi dar uma volta no quarteirão com o irmão Silas, que era mais velho.

Logo na esquina da casa nova, havia um campo de flores lindas, de variadas cores e uma pista para andar de bicicleta. Laura então se lembrou das palavras da mãe. Na antiga rua, tinha muitas coisas legais, mas não tinha um campo como aquele! Ali estavam muitas crianças brincando. Silas pegou Laura pela mão e foi conhecer a nova turma.

– Oi, pessoal! Meu nome é Silas. Esta é minha irmãzinha Laura. Acabamos de nos mudar para cá. Podemos brincar com vocês?

O pessoal foi logo recebendo os dois muito bem. Já marcaram um jogo de futebol e um passeio de bicicleta na pista. Laura conversou com algumas meninas e percebeu que elas eram muito legais. Ela passeou no meio das flores.

Quando entrou na nova casa, Laura sentiu o desânimo chegar novamente, pois já estava acostumada com tudo o que tinha na antiga casa. Então ela se lembrou mais uma vez do que a mãe havia dito, e foi procurar algo com que se distrair. Ela descobriu que seu novo quarto era maior e que ela poderia montar ali a casinha de bonecas que sempre quis ter, mas que no quarto antigo não cabia. À noite, quando todos estavam reunidos para o jantar, Laura comentou:

– Mamãe, você tinha razão. Deixei meu coração aberto e descobri que este lugar pode ser tão legal quanto aquele em que a gente morava. Eu ainda vou sentir falta de lá, mas acho que posso ser feliz aqui também!

– Claro, filha! De agora em diante, quero que você sempre se lembre disto: quando deixamos o coração aberto, coisas muito interessantes podem acontecer!

Na semana seguinte, Laura iria começar a estudar na nova escola. Ela não sabia o que ia acontecer e nem se ia gostar da nova professora e dos novos colegas. No fundo, no fundo, ela ainda tinha um pouco de medo de sentir muita falta da antiga escola, mas de uma coisa ela sabia: o segredo é sempre deixar o coração aberto.

Fabiana Siqueira