A caixa dos tesouros

O sinal soou e a turma correu para entrar nas salas. Naquele dia eu estava com vontade de correr, pular, brincar, menos estudar. O barulho do vento nas folhas das árvores que via pela janela me inspirava a voar também. Como não podia fazer isso, me contentava em deixar apenas o pensamento voar.
Saudade das aulas da Educação Infantil, quando podíamos correr, brincar, pular e ter poucas preocupações. Agora, tudo era muito diferente.
Ao toque do sinal, vários professores entravam nas salas de aula e saíam dela. Eram tarefas, trabalhos
e provas que pareciam não ter fim.
Pensava assim quando entrou o novo professor. Ele se apresentou para a classe com um largo sorriso:

– Oi, turma. Meu nome é Rafael. Sou o novo professor de Língua Portuguesa.

Ele tinha um andar agitado e falava com tanto entusiasmo que às vezes dava vontade de aplaudir.
– Estou muito ansioso para nos conhecermos, pois ouvi falar coisas fantásticas sobre vocês!
Ele era alto, magro, de pele clara, cabelos castanhos e trazia uma caixa misteriosa nas mãos.
– O que vocês mais gostam de fazer? – perguntou ele.
– Jogos de computador! – alguns responderam.
– Futebol! – dispararam outros.
Alguns poucos arriscaram outras atividades: viajar, acampar, andar de bicicleta e outras coisas.

Para nossa surpresa, ele falou que o que mais gostava de fazer era ler.

– Ah não, professor! – a turma disse em coro.
Então ele contou que naquela caixa estavam seus maiores tesouros: livros que havia lido durante sua vida, desde a infância. Foi colocando um por um na mesa. Estavam separados por assunto. Chamou cada aluno para escolher um livro para ler, conforme o gosto de cada um.
Os assuntos eram variados: aventuras, mistério, natureza, romance, policial, drama…
Chegou a minha vez. Olhando os que estavam sobre a mesa, escolhi um sobre tecnologia. Virei as páginas sem muito interesse, mas comecei a ler mesmo assim. Quando olhei ao redor, me surpreendi: todos estavam sentados, com o livro que haviam escolhido. Nunca tinha visto uma classe tão silenciosa.
Logo descobri que meu livro era sobre uma aventura tecnológica que acontecia dentro de um jogo. Para vencer, o personagem (jogador) tinha que correr, pular, rolar e voar. Cada atividade física valia 20 pontos. No final, havia um prêmio surpresa para quem conseguisse atingir todos os níveis no menor tempo. Eu nem imaginava que ler poderia ser divertido.
Estava tão distraído com a leitura que me assustei quando ouvi o sinal tocar. “Já? Mas ainda não terminei de ler. E agora? Qual seria o prêmio surpresa?” Teria que devolver o livro sem descobrir. Na hora de entregar, fiquei relutante.
O professor me olhou e perguntou:
– Qual é o seu nome?
– Bruno – respondi sem jeito.
– Bruno, você quer ficar com o meu tesouro até a próxima aula?
– Sim! – falei quase sem pensar.

– Então, cuide muito bem dele. Este é o meu preferido!

Depois que ele saiu da sala, olhei para o livro que estava nas minhas mãos. Aquela história era tão legal! Parecia que eu estava vivendo toda a aventura.
– Acho que estou começando a gostar dessa matéria – pensei em voz alta, guardando o livro na mochila.