Sentada na calçada, ela só pensava em uma coisa:
“É a última vez que me sento aqui.” Depois de ajudar a mãe a fechar mais uma caixa, o que Olívia mais queria era tirar tudo daquele caminhão de mudança e devolver cada coisa ao seu lugar.
A notícia da mudança chegou pouco depois das férias começarem. O que deveria ser o mês mais legal do ano acabou se tornando uma contagem regressiva para transformar uma casa inteira em pilhas de caixas.
– Eu gosto desse quarto assim, não preciso de um quarto maior. E eu nem gosto tanto de praia, prefiro brincar aqui na praça mesmo – dizia chateada.
Não tinha jeito. Nada que o pai dizia deixava Olívia animada com a mudança. Reunidos na sala, muitas vezes o pai explicou por que tinha sido transferido para outra cidade, e como precisava do apoio da família. A nova casa ficava no litoral. Olívia viu as fotos da cidade, da casa, da praia… A verdade é que no fundo ela tinha achado tudo muito bonito, mas era difícil dizer “adeus”. Os amigos da rua, os colegas da escola…Tudo isso ficaria para trás.
– Filha, você vai conhecer muitos amigos na cidade nova. Além disso, nós vamos voltar aqui e seus amigos podem ir nos visitar – explicava a mãe quando a campainha tocou.
– É a Gabi! – gritou o pai.
Gabi e Olívia eram amigas desde o jardim da infância. Esse era um dos motivos que deixava aquela despedida ainda mais difícil.
– Minha mãe disse que posso passar alguns dias lá na sua casa nova – Gabi foi logo dizendo.
– Viu só? Era isso mesmo que eu estava falando – concluiu a mãe.
No dia da mudança, Gabi ficou na calçada acenando para a amiga. Olívia não tinha parado para pensar, mas é claro que o pai e a mãe também sentiriam falta dos amigos. Para eles também não seria fácil se acostumar com tudo novo. Mas, como acontece em várias situações, os adultos tentam se fazer de fortes na frente das crianças. E assim a viagem continuou.
– Está tudo bem? – Olívia perguntou ao ver a mãe chorando ao esvaziar mais uma caixa na casa nova.
– Não é nada, filha – ela tentou disfarçar.
A garota se sentou na cama.
– Talvez não seja tão ruim assim ter que mudar de cidade – disse tentando animar a mãe.
– Ah é? Você já está mudando de ideia?
– O papai sempre diz que nossa vida é como um livro… Então, vamos pensar que nossa mudança é um capítulo novo do livro. E os novos capítulos são sempre cheios de novidades. Mesmo assim, a gente nunca esquece a história que veio antes, assim como não vou me esquecer dos amigos que ficaram para trás.
– Você tem razão, Olívia – disse o pai chegando no quarto. – Fico feliz por você pensar assim. Agora, pegue aqui o celular e ligue para a Gabi. Ela já ligou duas vezes querendo saber como foi a viagem.
Olívia correu para contar as novidades para a amiga. E sabe de uma coisa? Depois de terminar a ligação, ela percebeu que algumas coisas não precisam mudar, não importa o tempo que passe nem a distância.
Quando saiu com os pais para conhecer a praia, Olívia se sentou na areia e, com os pés molhados pela água do mar, pensou: “É a primeira vez que me sento aqui!” Era hora de começar a escrever um novo capítulo.
Texto: Anne