– Ano-novo, vida nova – diz a adolescente Mariana, esbanjando alegria enquanto abre a janela e deixa a primeira luz do novo ano iluminar todo o seu quarto.
Ela respira aquele ar gostoso de verão e arruma rapidamente a cama. Desce as escadas, beija a avó no rosto e se senta à mesa para comer torrada com geleia de morango.
– Você pode me levar, Patrick? – pergunta para o irmão mais velho.
– Está tudo pronto?
– Sim, está – diz Mariana ao chacoalhar afirmativamente a cabeça.
– Algum bicho mordeu você hoje, Mariana? – questiona a mãe enquanto senta ao seu lado. – Passei pelo seu quarto e vi a cama arrumada. Fiquei surpresa, pois já estava cansada de pedir todos os dias que fizesse isso.
– Ano-novo, vida nova, mãezinha! – a garota fala sorridente. – Agora vamos, Patrick, ou nos atrasaremos.
Mariana pega uma caixa cheia de bugigangas e Patrick, um cesto com frutas e guloseimas. Eles vão para o carro e saem pelas ruas do bairro, parando na casa de dois grandes amigos: Paolo e Geisa.
Depois, no caminho…
– Eu trouxe as roupas e a maquiagem – diz Geisa.
– E eu estou com os brinquedos – completa Paolo.
– É aqui? – Patrick pergunta, estacionando o carro na frente de outra casa.
Do portão da casa sai Tatiana, uma menina não muito popular na escola, mas que, apesar de tímida, é uma pessoa muito especial. Ela entra no carro, apertando-se no banco de trás entre os passageiros e as caixas e dando um “oi” envergonhado.
Mariana, como de costume, logo puxa conversa, falando alto, gesticulando e contando sobre suas expectativas para aquele dia, até finalmente chegarem ao destino: uma casa que acolhe crianças e adolescentes.
Patrick estaciona o carro e aguarda enquanto os quatro amigos descarregam as parafernálias. Como já estava tudo combinado com a diretora do abrigo, os jovens entram no prédio, cumprimentam a recepcionista e vão até um quartinho para se arrumar. Ali, se pintam de alegria: narizes e bocas vermelhas, cabelos rosas e azuis, roupas coloridas e sapatos maiores que os pés. Eis o Quarteto Sorriso.
Tatiana, a menor dos quatro palhaços, rapidamente se transforma. Faz caretas e muda a voz, ensaiando para brincar com as crianças da casa. E, nesse entusiasmo, chegam ao salão onde estão os menores abrigados. Com eles, lancham, brincam, gargalham e distribuem presentes.
Mariana pega uma ou duas criancinhas no colo, dando-lhes abraços e beijinhos. Quando fica bem cansada, joga-se num sofá, ao lado de Patrick.
– Ano-novo, vida nova? – o irmão pergunta, contente ao ver toda aquela alegria que os amigos estavam espalhando.
– Vidas novas! – Mariana responde ofegante.
– Como assim?
– Não adiantaria nada eu mudar minha vida sem mudar a de outras pessoas – a menina esclarece. – Estou dando vida nova para a mamãe, pois ela vai reclamar menos de mim. Vida nova para a vovó, que às vezes só espera um gesto a mais de carinho e atenção de nossa parte. Vida nova para o Paolo e para a Geisa, que podem ter menos preconceito com os amigos excluídos de nosso grupo e que podem aprender a fazer mais por aqueles que estão perto de nós. Vida nova para a Tatiana, que sempre foi excluída por sua timidez; mas eu quero que ela sinta que é uma de nós. Vida nova para as crianças e adolescentes desta casa, pois de agora em diante estaremos sempre por aqui, com eles.
– Entendi – diz o irmão.
– Ah, e eu ia me esquecendo – Mariana dá um beijo no rosto de Patrick. – Vida nova para você, que vai levar o Quarteto Sorriso a um montão de lugares.
– Está bem, mas com uma condição – o jovem fala, tirando o nariz de palhaço de Mariana e colocando em seu próprio nariz. – Só se mudarmos o nome do grupo para Quinteto Sorriso. Ano-novo, vida nova! – diz Patrick, ao se levantar e ir para o meio da criançada fazer palhaçada e semear alegria.