Até hoje ninguém conheceu uma menina de nove anos tão fofoqueira como aquela. Seu nome era Queila. Tinha cabelos encaracolados, pele morena, olhos verdes e arregalados – sempre procurando algum assunto para fofocar. Por causa disso, alguns colegas a apelidaram de “coruja”. Mas o apelido que pegou mesmo foi “Fofoqueila”.
Queila gostava de falar da vida das pessoas. Certa vez, uma colega da classe foi para a aula com o tênis furado na sola. A Fofoqueila não perdeu tempo e contou para todos. Coitada da menina pobre que não tinha dinheiro pra comprar outro calçado!
Outro dia foi assim: Queila descobriu que Gilson, um garoto tímido da sala, gostava da Kelly e ia lhe entregar uma caixa de bombons como admirador secreto. Só que depois que a Fofoqueila ficou sabendo, a notícia se espalhou. Durante o intervalo, a galera escreveu declarações de amor para a Kelly no quadro da sala e assinou todas elas com o nome do Gilson. Bem, a vergonha foi tanta que ele nunca se declarou para a Kelly.
Existem muitos assuntos para se falar numa rodinha de amigos – menos criticar a roupa de um colega, falar de alguma coisa desastrada que ele fez, ficar rindo dele quando passa ou espalhar e inventar boatos. Queila sabia disso, mas preferia continuar sendo a Fofoqueila.
Acontece que, de tanto falar da vida dos outros, ela acabou se dando mal.
Um belo dia, quando voltava da escola para casa, ela olhou para a calçada e viu o Sr. Silva, pai da Margarida, correndo desesperadamente por entre as pessoas que passavam. Atrás dele vinha correndo um policial a toda velocidade.
A Fofoqueila nem esperou pelo dia seguinte. De casa mesmo mandou um e-mail para todos os seus contatos. Notícia quente: O pai da Margarida virou ladrão e foi perseguido pela polícia.
A escola toda ficou sabendo! No outro dia, as pessoas passavam pela Margarida e riam dela. Um garoto do Ensino Médio teve até a ousadia de pegar no relógio dela e dizer: “E este relógio? Seu pai roubou para você onde?”
Quanta vergonha! Margarida queria se esconder. Chorou tanto que não quis entrar na sala de aula. A professora foi conversar com ela.
Depois de ouvir toda a história, a professora pediu que um substituto tomasse conta da turma, pois ela estava com um “caso de polícia” para resolver.
Após uma hora, a professora entrou na sala. Também entrou Margarida. Depois, entrou um policial. A turma ficou em silêncio.
O policial falou:
– Estou aqui para explicar um mal-entendido. Ontem, após sair de um banco, uma senhora foi assaltada. O Sr. Silva, pai desta garota – disse apontando para Margarida –, que vendia picolés em frente à agência, viu toda a cena e saiu atrás do delinquente. Alguns segundos depois, fui informado do ocorrido e também fui em busca do ladrão. Se não fosse pelo Sr. Silva, não teríamos conseguido recuperar o dinheiro daquela senhora.
Ninguém piscava os olhos. Queila se afundava na cadeira.
– Acontece que andaram dizendo que o Sr. Silva era o ladrão da história. Quero dizer a quem inventou isso que a fofoca pode gerar uma calúnia. E isso é crime – explicou. – Antes de repassar uma informação, passe-a por três peneiras. A primeira é a peneira da “verdade”. Pense: tenho certeza de que isso aconteceu? A segunda é a peneira da “bondade”. Reflita: será que isso que vou dizer é algo bom? E por fim, a peneira da “utilidade”. Imagine: será que com essa informação eu vou ajudar alguém? É isso o que eu tenho para dizer. Obrigado!
A galera aplaudiu. Queila, tremendo e muito arrependida, decidiu mudar seu comportamento e sempre usar as três peneiras. Bem, durante um tempo, as pessoas ainda olhavam torto para ela. Mas, depois de mudar seu modo de agir, ela perdeu aquele apelido tão feio. Passou a ser chamada só de Queila mesmo.