– Ai de mim! Ai de mim! – resmungava Celinha, enquanto caminhava com Débora em direção à sala de aulas.
– O que foi? Não estudou para a prova de Ciências? – perguntou a amiga.
– Estudei muito, mas tive tanto azar até agora. Tenho certeza de que não irá melhorar.
Então Celinha começou a contar tudo o que tinha acontecido com ela até aquele momento.
Pela manhã, na hora de pentear o cabelo, acabou deixando cair o espelho que estava preso à parede. Ele se espatifou em pedacinhos. Segundo o que Celinha sabia, seriam sete anos de azar.
E, ao que tudo indicava, os sete anos já estavam valendo, porque ela mal saiu de casa e já foi surpreendida por um gato preto. Assustada com o que viu, Celinha fechou os olhos, repetindo para si mesma: “Eu não vi isso, eu não vi isso, eu não vi isso…” E aí o que ela não viu foi uma escada encostada na frente de uma papelaria, que o dono pusera ali para arrumar os letreiros da loja. Pobre Celinha! Acabou passando debaixo da escada e só se deu conta disso quando já estava longe, na mesma calçada.
“Não é possível”, pensou a menina consigo mesma. “E olha que nem teremos sexta-feira 13 neste mês de agosto… Mas será que todo esse azar também vale se a sexta for dia 14?” Pensando nessas coisas, Celinha acabou tropeçando numa pedra perto da escola. Por pouco, ela não caiu na frente de todo mundo.
E era por tudo isso que ela resmungava daquele jeito perto da Débora.
Depois de ouvir tudo o que Celinha tinha para contar, Débora fez uma revelação.
– Bem, Celinha, você é uma amiga muito especial. Então acho que posso dividir um segredo com você.
– E o que é? – os olhos de Celinha brilharam.
– Há uma palavrinha que dá muita sorte. E eu sei que palavra é essa. Já que você estudou, posso escrever a palavra neste papel aqui – e Débora escreveu sem deixar que a amiga visse a palavra –, vou dobrar desta maneira e você deve guardá-lo até o fim da prova.
– Isso funciona? – perguntou Celinha, meio desconfiada, guardando o papel dobrado no bolso.
– E muito – garantiu a amiga. – Você vai ver.
A professora entrou na classe e foi logo distribuindo as provas. Celinha olhou rapidamente para a amiga, que sorria para ela muito confiante. De alguma forma, isso deixou Celinha mais tranquila. Como a Débora era legal em dividir com ela aquele amuleto de sorte (será que ela poderia chamá-lo assim?)!
Os alunos começaram a fazer a prova. Imediatamente, Celinha percebeu que as questões não estavam difíceis. “Oba! A palavra mágica já está fazendo efeito!” Ela se inclinou sobre a prova e começou a escrever as respostas.
Depois que a Celinha terminou a prova, percebeu que a Débora também estava entregando a sua. Elas se encontraram do lado de fora da sala, no recreio.
– Obrigada pela palavra mágica! Ela salvou o meu dia – falou Celinha para a amiga.
Então Débora pediu o papel dobrado para a amiga e o desdobrou na frente dela, mostrando-lhe que palavra era essa.
– Confiança? – leu Celinha.
– Não existe palavra mágica – falou Débora. – O que existe é o seguinte: você estudou e só precisava ficar confiante para se sair melhor na prova. As coisas não têm poder para trazer azar ou sorte. Na verdade, o que ocorre na vida da gente não tem nada a ver com isso, mas tem a ver com oportunidades aproveitadas ou desperdiçadas.
– É, acho que você tem razão – concordou Celinha. – Ainda bem que eu não desperdicei meu tempo e estudei para a prova de hoje, senão…
– Senão seria um tremendo azar – completou Débora, rindo e brincando com a amiga.