O pessimista

 – Ei, Tiago, vamos jogar bola?

– Ih… justo hoje? Olhe o céu… Vai chover.

Tiago era assim. Seu lema era: “Se uma coisa pode dar errado, porque é que vai dar certo?”

– Tiaguinho, vamos brincar de pega-pega?

– Eu, não! O cachorro da vizinha está solto por aí. Vai nos ver correndo e a tragédia está feita.

Não tinha jeito.

E o pior é que, na escola, ele fazia parte do meu grupo de pesquisa. A gente se via todos os dias. Meu pai também o levava e o buscava na escola. Então, estávamos sempre juntos. Eu até tentava aconselhar: “Sabe, Tiago, nem sempre as coisas saem como pensamos. Você sempre pensa que algo vai dar errado. Mas nem sempre dá!” Mas ele já entrava no carro do papai falando em acidentes de trânsito; andava na rua dizendo que podia acontecer uma tempestade de raios; no recreio, estava sempre esperando alguém derramar suco em sua roupa; e achava que ninguém gostava dele…

Naquela semana, tínhamos um trabalho pra entregar na escola. Tiago passou a manhã inteira dizendo: “Não vai dar tempo de fazer este trabalho. Vamos ficar sem nota…” e, à tarde, fomos pra minha casa fazer o que tinha que ser feito.

Minha mãe é muito esperta e deu um jeito no Tiago.

– Oi, Tiago. Que bom ver você!

– É… Estamos numa enrascada. Duvido que dê tempo de fazer este trabalho.

Mamãe sorriu pra mim.

– Será? E se realmente não der tempo, hein?

– Ih… Nem sei… Acho que reprovo neste ano.

Minha mãe olhou para o Tiago e continuou:

– Você sabe o que é ser uma pessoa pessimista?

Tiago fez uma cara engraçada.

– Pessi… Pessi… O quê?

– Calma! Vou contar um caso bem rapidinho pra você entender. Certa vez, no meio de uma guerra, havia um homem enorme, alto mesmo. Na verdade, ele era um gigante. E ninguém conseguia lutar contra ele. Até que apareceu um rapazinho pequeno e magrela… E disse para o rei daquele povo: “Deixa comigo! Vou lutar com o gigante. Ele é grande, mas não é dois.” Você consegue imaginar a cena?

Tiago riu alto.

– Que maluco! Quem enfrentaria um gigante? Eu fugiria para outra cidade, para não correr o risco de ver o tal gigante nem de longe.

– Pois esse “maluco” se chamava Davi. E o rei dele se chamava Saul. O rei Saul também caiu na risada. E falou com ele: “Ah, Davi! Você não tem a menor chance. Esse gigante luta desde criança. Mas, se você quiser ir, vá!”

– O rei o deixou ir porque não tinha outro jeito.

Minha mãe estava conseguindo o que queria.

– É mesmo! O rei Saul não acreditou que Davi poderia enfrentar o gigante (que se chamava Golias). Ele foi pessimista. Pensou que daria errado.

Tiago estava compreendendo.

– Hum… Entendi.

– Mas Davi foi lá e venceu o gigante. Sabe como? Com uma pedrada. O rival era um guerreiro experiente, estava com lança, espada, escudo e era enorme. Davi era muito corajoso.

Nessa hora, tentei ajudar. Eu estava ansioso:

– Isso mesmo, Tiago. Davi foi otimista.

Mamãe olhou pra mim sorrindo e disse:

– Quase isso, Luís. Podemos ser pessimistas e pensar que nada vai dar certo, ninguém gosta de nós e que não somos capazes. Podemos ser otimistas e pensar que tudo são flores, nada de ruim pode nos acontecer… Mas ainda existe outra forma de viver, que é como Davi vivia.

Nessa hora, Tiago prestou ainda mais atenção.

– Podemos viver pela fé, que, na verdade, é uma forma realista de viver. A realidade é a seguinte: Deus nos ama e cuida de nós em todos os momentos. Davi não confiava na pedra que iria jogar e muito menos em sua boa pontaria. Ele confiava em Deus. Ele foi otimista.

Silêncio…

Tiago pegou sua mochila e eu pensei que ele havia se chateado e iria embora. Que nada!

– Então vamos logo fazer o trabalho. Estou quase achando que é mais fácil lutar contra um gigante do que terminar a tarefa no prazo.

Meu amigo havia entendido o recado, mas mamãe finalizou:

– É isso mesmo. Não importa o tamanho e nem a forma do gigante. Confie que Deus vai ajudá-lo. E, se vocês terminarem antes de escurecer, deixarei os dois tomarem um banho de piscina.

Antes que Tiago tomasse fôlego para dizer qualquer coisa, ela emendou:

– Ainda que chova. Banho de piscina na chuva é muito gostoso.

Trabalhamos e deu tudo certo. Sabe por quê? Porque Tiago tinha compreendido direitinho a lição.