– Vamos, Daniel!
Mamãe já havia chamado algumas vezes. Ela enxugou as mãos em um pano de prato e foi até o quarto.
Daniel ainda estava deitado, cobria o rosto com as mãos e agitava os pés.
– Não quero ir, mãe. Por favor, me deixe em casa… Só hoje.
A mãe se sentou na cama e respirou fundo. Eles já tinham conversado sobre isso inúmeras vezes e havia chegado a hora. Era o primeiro dia de aula. Daniel nunca tinha ido à escola e estava muito assustado.
– Filho, a gente conversou tanto sobre isso. Achei que estava tudo certo – falava a mãe falava em um tom desanimado.
O menino esfregou os olhos e falou rápido:
– Mas eu desisti. Não quero ir.
A mamãe, que era muito esperta, teve uma ideia:
– Você sabe o que é fábula?
Daniel se sentou na cama devagar. Ele amava animais.
– Sei, sim. É uma história em que animais falam; mas animais não falam de verdade, então ela só serve pra gente aprender uma lição.
A mãe sorriu, mostrando aprovação:
– Você é muito inteligente, garoto. Só poderia ser meu filho mesmo. Então, vou lhe contar uma fábula. Preste atenção:
Existia um jardim imenso. Nele, moravam muitos insetos e pequenos animais. Ali, também vivia um grilo muito engraçado. Ele era feliz por morar naquele jardim enorme e por ter tantos amigos, apesar de nunca ter saído de sua graminha. Mas não ter saído dali não era o problema. Apenas uma coisa o incomodava: ele não sabia fazer barulho de grilo.
Não importava quanto ele tentasse, nada de barulho de grilo.
(Esse barulho se chama estridulação, só para você saber!)
Em uma manhã meio nublada a abelhinha passou pelo grilo e achou que ele estava chateado:
– Ei, grilo. Está triste? Zunzunzum. O que está acontecendo? Zunzunzum.
(A mãe de Daniel sabia fazer os sons dos animais como ninguém!)
E o grilinho contou seu problema para a abelha e perguntou como ela fazia seu zunzum de abelha tão perfeito.
– Ah! Eu bato as asas bem rapidinho… E assim faço meu zunzum… Bom! Estou indo. Espero que você logo aprenda a fazer o cri-cri de grilo. Fui…
O grilo continuou ali, entristecido. Até que passou uma borboletinha. E ele contou a ela tudo que estava passando. A borboleta teve uma brilhante ideia:
– Vou ajudar você, grilo, mas preciso que saia da sua graminha verde. Você vai precisar sair daí dando um salto bem alto.
– Sair daqui? Mas… Eu nunca saí da minha graminha. Eu me sinto seguro aqui… Será?
E a borboletinha o encorajou a sair da grama.
– Venha! Eu ajudo você. Dê um salto bem alto. Estou aqui para ajudar no que precisar.
Então, o grilo tomou coragem. Respirou fundo e deu um grande pulo de grilo.
Acontece que, quando ele saltou, suas pernas se esfregaram uma na outra e produziram um lindo som de grilo CRI-CRI-CRI…
Que alegria! Imagine… Bastava saltar para produzir o barulho de grilo. Ah, se o grilinho soubesse disso antes!…
Daniel estava bem atento, olhando para a mamãe com os olhos avermelhados.
– Entendeu a lição, filho?
O garoto tinha entendido. Foi se arrastando para fora da cama. Pegou a mochila.
– Entendi, mãe! Eu sou o grilo… Ah, mãe! E se eu precisar amarrar o cadarço?