Mudar de escola no meio do ano não é um bom negócio. Sofia sabia bem disso porque ela já havia passado por essa experiência quando estava com oito anos. O pai tinha sido transferido de cidade, e ela teve que continuar o segundo ano em um lugar totalmente novo.
Agora, que já tinham se passado quase três anos, que ela já estava acostumada à escola, cheia de amigos, o pai chega com uma notícia: nova transferência. Em seu emprego, essas mudanças são necessárias a cada três ou quatro anos, de acordo com as necessidades da empresa.
A menina nem reclamou; não havia como evitar. Então, logo que as férias terminaram, ela precisou ir para a nova escola.
Sofia chegou tímida. O olhar meio baixo ainda permitiu que ela percebesse que todos já estavam com grupos formados. Magrinha e baixa demais para seus 11 anos, ela estava com medo de ser alvo de zombarias.
“Vai dar tudo certo! Vai dar tudo certo! Vai dar tudo certo!”, repetia para si mesma. Durante a aula, correu tudo bem, mas ela traçou uma estratégia para fazer amigos no recreio. Na hora do intervalo, procuraria uma roda de vôlei para se enturmar.
Tocou o sinal, e Sofia foi para o pátio. Viu uma rodinha com meninas de sua classe, pediu permissão para jogar e entrou na roda.
Mas algo estava errado. Ninguém passava a bola para ela. Sofia resolveu ser otimista e esperar. Nada! Se passassem a bola para ela, veriam que, mesmo mais baixa que as outras, Sofia rebatia bem.
De repente, uma delas falou algo estranho:
– Peva-pemos pessa-peir peda-pequi pee pede-pei-pexar pees-pessa peba-pei-pexi-penha pepra pelá?
– Pede-pemo-perou! – respondeu uma outra, enquanto todas saíam.
Com a roda desfeita, Sofia não sabia o que fazer. Desconcertada, sentou-se sozinha e sem-graça num lance da arquibancada do pátio.
– Sozinha?
Sofia até se assustou ao ouvir a voz de alguém.
– É – ela respondeu, com um sorrisinho amarelo. – Parece que as meninas do vôlei resolveram bater bola em outro lugar.
– Sei! Muito prazer, meu nome é Sabrina. Quer aprender a fazer uma caixinha de dobradura?
– Quero – respondeu Sofia, prestando atenção aos passos que a garota ensinava.
Os minutos de recreio foram poucos, mas, antes que terminassem, Sofia aprendeu a fazer a caixinha e ainda perguntou:
– Sabrina, o que significa pemo-perou ou algo parecido com isso?
– Ah, usaram a língua do P com você.
– O que é isso?
E a Sabrina explicou que era uma espécie de código. Bastava colocar “pe” antes de cada sílaba da palavra, e a pessoa estaria falando a língua do P. Normalmente, usavam essa linguagem quando não queriam ser entendidas por alguém que estivesse por perto e não conhecesse o código.
Sabrina e Sofia treinaram algumas palavras e voltaram para a classe.
Na saída, uma das garotas que estava na roda de vôlei se aproximou da Sabrina.
– Por que você ensinou a língua do P para a novata? Estragou nossa diversão!
– Isso não é nada divertido! Além disso, eu preferi que ela, aqui na escola, descobrisse a pelin-pegua-pegem peda pea-pemi-peza-pede! – respondeu a garota, confiante de que Sofia poderia se tornar uma amiga muito legal.
Texto: Sueli Ferreira de Oliveira