Superlentes

Andressa já estava cansada! Desde pequena, era a mesma coisa. Quando saía com a irmã Carolina, as comparações eram inevitáveis:

– São gêmeas? Pena que não são idênticas…

– Aposto que você queria ter os olhos da Carol, não é, Andressa?

Carol era a cópia fiel da mãe, dona Helena: cabelo liso preto contrastando com olhos verdes clarinhos, enquanto Andressa era uma “mistura” de gerações, tendo herdado os cachos loiros da avó e os olhos castanho-escuros do pai.

Ao se olhar no espelho, a menina não gostava do que via. Na escola, começou a reparar nas amiguinhas: Thalita, de nariz arrebitadinho; Clara, sardas charmosas nas bochechas; Nanda, a mais amiga da sala; Mari, a mais engraçada; Ísis, a mais atlética… E só pensava em seus defeitos: “Meu nariz é muito grande! E essa pele ‘desbotada’? Sou tão tímida! Gostaria de sentir menos preguiça…”

Ela já não queria mais brincar com as amigas, nem sair com a irmã, de tão mal que se sentia. Todo mundo era melhor que ela! Dona Helena percebeu que algo não estava bem. Quando foi conversar com Andressa, encontrou a filha chorando baixinho. Nem precisou perguntar, para ouvir o desabafo:

– Por que eu não posso ser bonita e legal como as outras, mamãe?

– Porque ninguém é bonito e legal do mesmo jeito, minha querida – dona Helena respondeu ternamente.

– É isso aí! – Carol entrou no quarto. – Sabe o que as pessoas não sabem quando comparam a gente, Dê? Que meus olhos claros não suportam a luz do sol forte; que seus cachos podem ficar lisos quando você quiser, mas é difícil fazer uma presilha parar no meu cabelo escorrido! Elas também não podem ver o mais importante: o lado de dentro. Quando é minha vez de lavar a louça, você sempre se oferece pra me ajudar. E eu queria muito ter a paciência que você tem pra cuidar da vovó!

– Somos criaturas de Deus, feitas à Sua imagem e semelhança – a mãe completou. – Quando olhar para si mesma, pense nos traços de pecado que deixam seu coração feio, e pense no que você pode fazer para deixá-lo mais bonito. Essa é a verdadeira beleza!

– Hmmm… você está falando da minha preguiça e do medo de fazer novos amigos? – Andressa ficou pensativa.

– Pode ser. Ah! E fique tranquila, porque existe um tratamento de beleza exclusivo do Céu. Além de um espelho poderoso que ajuda a enxergar o que pode ser mudado, Deus tem um produto de graça que pode mudar tudo isso! Basta pedir a Ele!

– A senhora está esquecendo das superlentes, mamãe! – Carol entrou no jogo. – Essas lentes nos ajudam a ver a nós mesmas como o Criador nos vê: Suas princesas, criadas de maneira única e especial! Todas nós “puxamos” ao Pai!

As três se abraçaram, e Andressa sorriu quando, finalmente entendeu seu valor. Mas ela ainda estava curiosa sobre aquele tratamento de beleza e decidiu testá-lo no dia seguinte. Ao chegar na escola, avistou as amigas conversando animadamente, como em todo início das aulas. Respirou fundo, orou em silêncio e foi pedir desculpas. As meninas responderam com um superabraço:

– Que bom que você voltou a falar com a gente, Dê! Eu estava com tantas saudades!

– É mesmo! Sem você, nosso grupinho não é a mesma coisa… Você faz muita falta!

– Seja bem-vinda de volta, amiga!

Carol piscou para a irmã:

– Superlentes, não é?

Andressa estava aliviada. Com as tais superlentes, ela não ficava se comparando aos outros, e já não se sentia inferior! Aos poucos, percebeu que as superlentes tinham função dupla: ela passou a enxergar os outros de maneira diferente, também! A partir de então, toda vez que notava alguém sozinho ou cabisbaixo, se aproximava, oferecia sua amizade e contava o segredo da beleza verdadeira. Logo, quase toda a escola também estava usando o tratamento de beleza do Céu.

E você, como se sente sabendo que é obra-prima do Criador do Universo? Que tal experimentar esse tratamento de beleza especial?

 

Texto: Aline Lüdtke