Sabrina, a sabichona

Você conhece alguém que tem mania de se achar o “sabe-tudo”? Sabrina era assim. Não importava se o assunto era uma tarefa da escola ou uma receita de bolo, ela sempre dizia: “Eu já sei”, “Eu já sabia.”

Na escola, os colegas a chamavam de “Sabrichona”, porque ela sempre sabia de tudo. Ou pelo menos achava que sabia.

Quando as férias chegaram, seus primos vieram passar uns dias com ela.

– Sabrina, trouxe um jogo novo pra gente se divertir. É assim que…

– Eu sei, eu sei – ela gritava, interrompendo a explicação do primo.

– Não é assim, Sabrina. Vou explicar como se brinca – insistia o garoto.

Sabrina tentava ouvir o que ele dizia, mas logo o interrompia, achando que já sabia o que ele ia falar.

Num domingo de sol, o pai de Sabrina acordou as crianças:

– Vamos lá, pessoal! Hoje vamos fazer um passeio no parque ecológico.

– Já sei, já sei! É aquele que tem um lago bem grande no meio, não é? – gritou Sabrina enquanto pulava da cama.

– É esse mesmo, filha! – concordou o pai.

– Eu sabia! – comemorou satisfeita.

É claro que às vezes ela sabia mesmo o que estava falando. Afinal, ela era uma garota esperta e muito inteligente. O problema era quando ela exagerava na “dose”. Aí, ninguém aguentava.

Eles andaram de carro por alguns minutos, até chegarem à entrada do parque. Era bem grande, com muitas árvores e bancos de madeira. Antes que a garota terminasse de estender uma toalha no chão para começar o piquenique, o pai disse:

– Preparei uma surpresa pra vocês: vamos fazer uma trilha!

– Uau! – os meninos gritaram animados!

– Ah, uma trilha! Eu sei como é. Eu já sei, pai! É muito fácil! – tagarelou a garota.

A trilha era no meio da mata, com um caminho feito de pedras. Depois de andarem cerca de meia hora, o pai sugeriu que fizessem uma pequena pausa para o lanche.

– Fiquem aqui, crianças. Vou procurar o lugar ideal para abrirmos a toalha. Não saiam daqui; eu volto logo.

Poucos minutos depois, Sabrina já estava inquieta:

– Meu pai está demorando, vou atrás dele – disse, levantando-se do chão e tirando as folhas grudadas na própria roupa.

– Não, Sabrina – advertiu o primo. – O tio André pediu que a gente não saísse do lugar.

– Ah, mas eu sei andar na mata. Eu vi pra onde ele foi; é fácil encontrar!

Os primos fizeram de tudo, mas a sabichona não quis ouvir. Ela se embrenhou no meio da mata, como se soubesse muito bem o que estava fazendo.

Pouco tempo depois…

– Voltei, pessoal! Encontrei o lugar perfeito. Venham! – disse o tio André, dando a mão para eles se levantarem.

Ele olhou para os lados e arregolou os olhos:

– Onde está a Sabrina?

– Desculpe, tio. Fizemos de tudo, mas ela saiu atrás de você. Ela disse que sabia andar na mata e que não tinha problema.

Ele segurou os sobrinhos pelas mãos e juntos saíram gritando:

– Sabrina! Sabrina! Sabrina!

Andaram para todos os lados, mas nem sinal dela. Continuaram gritando, até que dois guardas do parque ouviram os gritos e vieram ajudar. Depois de procurarem por quase uma hora, escutaram alguém chorando perto de uma árvore. Era ela.

– Sabrina! Você está bem? – disse o pai preocupado.

A garota o abraçou com força, chorando.

– Eu me perdi, pai. Não sabia onde estava, fiquei com muito medo. Achei que sabia voltar, mas fui me afastando cada vez mais. Eu não sabia, pai. Eu não sabia…  Eu nunca mais vou fazer isso. Hoje, eu aprendi a lição.

O pai a carregou no colo até saírem da trilha. Aos poucos, ela foi se acalmando e parando de chorar.

– Está tudo bem – ele dizia enquanto preparavam o piquenique.

Depois que o susto passou, resolveram brincar de pique-pega pelo parque.

– Venha brincar também, tio André – insistiam os garotos.

– Então se preparem, porque eu sou muito rápido.

– Isso eu já sabia, pai! – disse a garota antes de sair correndo.

 

Texto: Anne Lizie Hirle